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COMO SOBREVIVER A UM ACIDENTE AÉREO ?


É POSSÍVEL SOBREVIVER A UMA QUEDA DE AVIÃO ?

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Quando ocorre uma emergência ou um acidente grave, as boas práticas de gerenciamento de riscos estabelecem algumas estratégias básicas para se tentar reduzir as consequências catastróficas destes eventos e assim reduzir também o número de vítimas.  Uma das estratégias mais eficazes é primeiramente remover o maior número de pessoas da área de exposição ao perigo e em seguida prover meios de abandono definitivo deste cenário onde o acidente está acontecendo.  Isto é feito através do encaminhando das pessoas para outro cenário, de menor risco.  É o que acontece por exemplo quando um navio começa a naufragar e as pessoas são encaminhadas para embarcações de pequeno porte para efetuar o abandono do cenário de naufrágio para um segundo cenário, também perigoso porém de menor risco, que é a sobrevivência no mar.

Em uma queda de avião e em outros acidentes aéreos, essa estratégia torna-se um desafio ainda maior para os especialistas já que nem sempre há um segundo cenário disponível. Quando os sistemas críticos de uma aeronave sofrem uma pane definitiva que impossibilite as condições mínimas de funcionamento em pleno vôo, não haverá um segundo cenário disponível.  Por outro lado, existem muitos casos em que um pouso de emergência é possível.  Também é surpreendente a quantidade de acidentes envolvendo aeronaves que ocorrem em terra.  Aliás, o maior acidente aéreo de todos os tempos em número de vítimas aconteceu em 1977 em Tenerife, ilha do Arquipélago das Ilhas Canárias na Espanha.  Enquanto uma aeronave se preparava para decolar, a outra taxiava cruzando a pista sob neblina e assim ambas se chocaram em terra gerando um grande incêndio.  Foram 583 mortos e dezenas de feridos.

Sempre que há um pouso de emergência, ou forçado por uma situação de queda, há também chances de sobrevivência.  Algumas informações, um bom treinamento, a preparação técnica adequada da aeronave e o suporte por meios de resgate podem fazer diferença entre viver e morrer.  A seguir, listamos algumas questões básicas relacionadas com as chances de sobrevivência a um acidente aéreo. 




QUAL O PROCEDIMENTO BÁSICO DE ESCAPE E ABANDONO DE AERONAVE COMERCIAL ?


Há dois tipos de emergências que podem gerar operação de escape e abandono de aeronave comercial:  emergência preparada;  emergência não evidente.  No primeiro caso o comandante determina a necessidade de realização de um pouso de emergência e solicita aos comissários que preparem os passageiros e a cabine para o pouso.  Essa preparação pode incluir a retirada de relógios, anéis, brincos para evitar possíveis ferimentos.  São distribuídos cobertores e travesseiros para ajudar a reduzir um as escoriações e choques.  Todos os objetos soltos na cabine deverão ser recolhidos para os gavetões ou reunidos num único banheiro que deverá ser trancado.  Cada porta da aeronave deve ter um comissário como responsável o qual, após o pouso de emergência, se posicionará para avaliar se há fumaça, fogo ou algum fator proibitivo que inviabilize a utilização da porta para a operação de escape e abandono.  Verificada a disponibilidade da porta e caso não seja possível utilizá-la, o comissário deverá permanecer junto à mesma encaminhando os passageiros para as outras portas.  Se a porta estiver operacional, o comissário irá abri-la, acionar o escorregador se disponível, e, liberar os cabos de auxílio que os passageiros poderão utilizar para segurar e acessar o escorregador.  Sapatos e objetos perfurantes devem ser descartados para evitar danos às partes infláveis.  Ao sair, as pessoas devem se afastar ao máximo da aeronave nos primeiros momentos.

No caso de emergência não evidente, não existe preparação prévia para o pouso mas os comissários deverão tentar cumprir os mesmos procedimentos descritos para o controle das portas.


PROCEDIMENTOS DE ABANDONO REALMENTE SALVAM VIDAS OU SÃO APENAS FORMALIDADES EXIGIDAS PELA LEGISLAÇÃO ?


Os procedimentos realmente salvaram muitas vidas em diversos acidentes.  Dois dos mais recentes casos foram o pouso de emergência do voo 1549 da U S Airways em 2009, quando todos os 155 ocupantes foram salvos após um o contato da aeronave com as águas geladas do Rio Hudson;  e outro caso bem sucedido foi o pouso forçado do Boing 777 da Asiana Airlines no Aeroporto de San Francisco, USA no qual a quase totalidade dos 307 ocupantes conseguiu abandonar a aeronave antes que um incêndio de grandes proporções a destruísse completamente (2013). 



QUAL O PAPEL DOS COMISSÁRIOS NUMA OPERAÇÃO DE ESCAPE E ABANDONO ?


Os comissários tem um papel vital para o sucesso das operações de escape e abandono e também no período pós abandono, o qual pode requerer a sobrevivência no mar, na selva ou mesmo em outras áreas de difícil acesso.  Se alguém pensa que a presença de comissários nos vôos é apenas um desfile de cortesia e distribuição de itens de conforto e alimentação está muito engado.  Basta notar que alguns voos nem sequer oferecem alimentos por estratégia de redução de preços, mas mantém os comissários que são indispensáveis por questões de segurança.  Eles são treinados para só abrir as portas que poderão realmente salvar vidas, conhecem os equipamentos, sabem onde os recursos de sobrevivência estão localizados e principalmente sabem como utilizá-los otimizando o seu consumo.  

EXISTE UM LUGAR MAIS SEGURO PARA SE VIAJAR NUM AVIÃO ?


Poderia existir se o passageiro tivesse certeza antecipada sobre todos os detalhes do acidente que iria acontecer no voo.  Mas se fosse possível adivinhar isso, obviamente a decisão inteligente seria não voar.  Se houver uma operação de escape e abandono, estar mais próximo das portas de emergência agrega vantagem na luta pela sobrevivência porque cada segundo pode fazer diferença.  Uma recomendação adotada por alguns especialistas é estar até 7 fileiras de distância da porta de emergência.  Normalmente as aeronaves já são construídas de uma forma tal que, quando ficamos a mais de 7 fileiras de distância de uma porta de emergência, basta olhar para o outro lado e perceberemos outra porta com menos de 7 fileiras de distância.  Mas também é importante lembrar que nenhum acidente é igual a outro e até as portas de emergência podem se tornar a causa de acidentes em pleno voo.  Num cenário como esse a porta passa a ser o perigo, podendo causar a despressurização súbita da cabine e em casos extremos passageiros sem cinto podem até serem expelidos da aeronave.  Pior ainda, as poltronas mais próximas da porta acidentada podem até ser arrancadas e sugadas para fora do avião, inclusive com o passageiro e acidentes como estes já foram registrados no Brasil.  Mais importante do que a posição da poltrona, a segurança maior está em entender o plano prévio de escape e abandono, observar a evolução dos acontecimentos anormais e reagir com presteza aproveitando as orientações da tripulação.  

QUE PORTAS DE EMERGÊNCIA FUNCIONAM MELHOR ? 


Em caso de pouso na água há maior probabilidade da parte central junto às asas ficar mais adequada para o abandono.  A princípio as pessoas poderão sair pela porta de emergência sobre as asas e ainda terão as próprias asas para se preparar antes de pular para a água.  Geralmente a aeronave que pousa na água começa a ser inundada pela parte da frente ou pela parte de trás, por isso, teoricamente a inundação demoraria mais a atingir a parte central junto às asas.  Por outro lado se o pouso for em terra ou em copa de árvores a região junto às asas é justamente a que contém a maior quantidade de combustível e tem maior chance de incendiar.  Portanto não há uma regra definitiva.  O mais importante é entender bem o plano de abandono e observar a evolução da emergência para agir corretamente, independentemente de qual seja a posição do passageiro na aeronave.

A INFRAESTRUTURA DOS AEROPORTOS PODE AJUDAR ?


Quando a emergência é preparada, ou seja, quando o comandante reconhece a necessidade de um pouso de emergência e isso pode ser feito numa pista de aeroporto, além da preparação dos passageiros, da cabine e da aeronave, as equipes de terra como bombeiros, lanchas de apoio, ambulâncias entre outros, se posicionam estrategicamente na pista.  Eles são exaustivamente treinados para esse tipo de operação.  O comandante ao declarar a emergência inicia também os preparativos das equipes na pista, onde os caminhões dos bombeiros especializados irão estar prontos para acompanhar a aeronave desde o primeiro ponto em que tocar a pista, em alta velocidade.  Caso haja necessidade, uma camada de espuma especial também é lançada para evitar um incêndio caso a aeronave precise pousar “de barriga”.  Quando há rios, mares nas proximidades, lanchas são acionadas preventivamente para um eventual resgate. 

QUAL A MELHOR ESTRATÉGIA PARA SOBREVIVER A UM ACIDENTE AÉREO ?


Não apenas no caso de acidente aéreo, mas para qualquer caso de acidente, o que mais amplia as chances de sobrevivência é o grau de consciência e conhecimento sobre os fatos que estão ocorrendo durante a emergência.  Como nos eventos acidentais os acontecimentos são surpreendentes e rápidos, não é possível se preparar devidamente durante a própria emergência e nesta hora, quanto mais informação anterior a pessoa tiver, mais chance de sobrevivência ela terá.  Então, observar as instruções no início dos voos, as cartelas de orientação sobre as saídas, observar sinais de fumaça, fogo, observar ruídos e comunicar quaisquer anormalidades à tripulação, tudo isso ajudará a ter uma melhor atitude na hora da emergência.

Instruções sobre como usar as máscaras no caso de descompressão, como usar os flutuadores e coletes, lembrar que a temperatura e a fumaça são piores nas partes mais altas, priorizar a vida ao invés de insistir em carregar objetos e bolsas, podem ser informações e atitudes salvadoras.  Também é fundamental um comportamento colaborativo, porque se cada passageiro pensar somente em si, provavelmente o número de vítimas será maior. 

Em alguns tipos de acidente a margem de ação de cada pessoa é muito pequena.  Mas em muitos outros tipos de emergência, o conhecimento prévio, um plano básico anteriormente definido, bastante atenção e vontade de viver podem sim ajudar a aumentar as chances de sobrevivência.

O sucesso de um empreendimento tecnológico está associado ao respeito aos fatores humanos, ambientais, econômicos e sociais que estão sob sua influência. Bons valores estabelecem a boa Cultura de Segurança !