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CIÊNCIA E TECNOLOGIA


 
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HISTÓRIA:

A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E A

REFORMA PROTESTANTE (1517-1600)




A Ciência Plena é a Ciência que Inclui Todas as Possibilidades


Ao  longo  da  história  da humanidade  as ciências  exatas  têm evoluído  de  uma  maneira  extraordinária  através  de  inúmeras descobertas,  invenções,  teorias  e experiências que  revelam  a magnífica  capacidade  do homem de analisar e solucionar os  seus problemas e as suas perguntas.

Trata-se  de  uma  enorme  variedade  de  respostas  e soluções justificadas  com  raciocínios  precisos,  lógicos,  criativos  e harmoniosos.    Diante   de   tamanha  prova  de   capacidade   e inteligência,  muitas  vezes  parece  difícil associar  todas  as conquistas  científicas  com  a  figura  do  próprio  homem,  tão emocional, instável, efêmero e sensível a tudo que o cerca.

É fundamental entender que por trás da mais complexa,  difícil  e precisa  descoberta da ciência,  está um homem com expectativa de não  mais  que cem anos de vida,  que sofre, e apesar  de  toda  sua capacidade, também se emociona diariamente por motivos os mais variados e ilógicos que se possa imaginar.

Na  realidade é esse lado subjetivo e a pacífica convivência com ele que faz o homem seguir.   Guerrear contra as emoções, a fé e a esperança  que  existe no ser humano só o faz perder  tempo numa luta onde a própria ciência acaba sendo prejudicada pela falta de correspondência com a realidade humana.  Aceitar o lado subjetivo do  ser  humano e continuar perseguindo os objetivos  científicos deveria ser o caminho natural.   Mas deixar de reconhecer o  desejo  do homem em viver eternamente,  entender sua origem e buscar Deus, é apenas somar orgulho com ingenuidade.

Sejamos maduros  e busquemos a ciência sem negarmos a nossa própria  realidade limitada curvando-nos a possibilidade,  e para alguns privilegiados a certeza, de que Deus existe.
Afinal,  se  alguns baseados na fé dizem provar  sua  existência, todos os outros sem a fé não conseguem provar o contrário.

O Domínio do Protestantismo entre os Grandes Cientistas da Europa Moderna


Alphonse  Candolle,  botânico francês iniciou em  1873  pesquisas sobre  a  predominância  dos adeptos do protestantismo  entre  os grandes vultos europeus da Ciência Moderna.   Candolle  registrou que  dos 92 membros estrangeiros da Academia de Ciência de  Paris eleitos  nos  dois primeiros séculos de sua fundação  (1666),  71 eram  protestantes,   16  católicos  e  5  judeus  ou  de   credo indeterminado.

Comparando   estas  cifras  com  a  dos  correspondentes   grupos religiosos fora da França - 107 milhões de católicos e 68 milhões de  protestantes - Candolle mostrou que o número de  protestantes estrangeiros,  eminentes  o bastante para integrarem a  Academia, era mais de 6 vezes maior que o de católicos.   Tal confronto não incluía os cientistas franceses.

Examinando  as  filiações religiosas dos membros  estrangeiros  da Royal  Society  de Londres em 1829 e 1869,  observou em ambas  as datas uma equivalência entre católicos e protestantes, apesar de, fora  do Reino Unido haver 139 milhões de católicos e  apenas  44 milhões de protestantes.

Estudos posteriores sobre as crenças religiosas dos cientistas da Europa  Moderna  (arroladas por R.  K.  Merton) tem confirmado  e ampliado o sentido geral das pesquisas de Candolle.

Fatores  aos  Quais  se  Atribui  a   Predominância   dos Protestantes


Além  do  fato  de não existir naquela época uma  inquisição  nos países  protestantes,   três  principais  fatores  explicam   essa participação tão expressiva:  a harmonia entre a 'Ética Luterana e a atitude de indagação científica;   a utilização da ciência para fins  religiosos (por parte de alguns seguidores calvinistas);   a concordância entre os valores cósmicos da Teologia protestante  e os das primeiras teorias científicas modernas.

A Ética  Protestante  em  Harmonia  com  a   Indagação Científica


Os  principais movimentos protestantes (alemão e suíço)  ensinaram que  o  homem deveria interpretar as escrituras por  sua  própria conta,  sem  a necessidade da intermediação dos sacerdotes da  fé católica, ou qualquer outro intermediário.  Analogamente  os  primeiros cientistas modernos afastaram-se  dos filósofos antigos e dos escolásticos medievais para procurarem  a verdade  científica em sua própria experiência:   interpretarem  a natureza por si mesmos.  Thomas  Sprat  em  1667 chamava a atenção  para  a  "concordância existente  entre  os  desígnios atuais da Royal Society e  os  de nossa Igreja, em seus primórdios".  

Segundo Sprat, ambas seguiram trilhas semelhantes para atingir seus objetivos,  uma reformou  a Filosofia  a outra a Religião.   Os protestantes deixaram de lado cópias adulteradas da Bíblia e passaram a usar os originais.   Os cientistas  abandonaram  teorias  da  antigüidade.    Ambas  foram acusadas pelos seus inimigos de abandonarem as tradições.   Ambas seguiram  o  preceito Bíblicos do Apóstolo Paulo  "examinai  tudo, retende o que é bom" (I Tessalonicenses 5:21).

Utilização da Ciência para Fins Religiosos


Os puritanos ingleses,  de origem calvinista,  acentuaram o dever religioso  de  praticar  "boas  obras"  e  colocava  a  atividade científica entre as mesmas,  pois eram consideradas úteis para  a humanidade.   Ocorre  porém,  que a "justificação pela Fé" era  o verdadeiro conceito original de salvação dos protestantes,  e não pelas   obras  como  alguns  seguidores  calvinistas   escoceses, holandeses  e  ingleses  poderiam aparentar  demonstrar  em  suas doutrinas.

Os protestantes eram incentivadores da prática da ciência como uma obra  proveitosa,  mas não atribuíam a salvação a nada senão a fé cristã.

Dos dois fatores examinados até aqui, relativos à prevalência dos protestantes entre os cientistas da Europa Moderna,  foi talvez o segundo  - assinalado  entre os Calvinistas do século  XVII  - o  de maior  peso.   O antiautoritarismo e o individualismo,  empírico, comuns  aos  primeiros protestantes e  aos  cientistas  modernos haviam determinado,  na melhor das hipóteses, uma relação harmônica entre  sua  ciência e religião.   Já o incentivo das boas  obras, pelos  últimos  calvinistas  deu  impulso  positivo  à  atividade científica.

Harmonia  entre os Valores Cósmicos Protestantes e a Ciência Moderna


Lutero  e  Calvino  opunham-se à nova  astronomia  de  Copérnico, baseados no argumento de que ele entrava em conflito com a  letra das Escrituras.  Não obstante isso, a concepção medieval do mundo compusera-se  de  uma  Teologia e de uma  Filosofia  da  Natureza estreitamente integradas entre si;  e sua superação foi realizada de  forma  simultânea,   embora  gradativa,   de  um  lado  pelos reformadores protestantes,  que atacaram os elementos teológicos, e  de  outro pelos cientistas,  que investiram contra os  fatores cosmológicos.    Na  realidade,  é  possível  perceber  terem  as arremetidas  de  calvinistas  e cientistas  seguido  linhas  algo semelhantes,  e  tanto umas como outras preparado o caminho  para uma  nova concepção mecânico-teológica do  universo,  fundada  na obra de Newton, de considerável popularidade no século XVIII.

Contribuições da Reforma Protestante para a Ciência Moderna


Em 1540 na Universidade de Wittenberg, centro da Reforma alemã, o matemático  Rheticus,  juntamente  com  Copérnico,  desenvolveram estudos da teoria heliocêntrica e estudaram o movimento de Marte.  O  astrônomo  Reinhold  preparou as Tábuas  Prussianas  baseadas também na teoria de Copérnico e publicadas em 1551.
Em 1654 John Cotton,  teólogo puritano calvinista declarou que  o estudo  da  natureza  era um verdadeiro dever  cristão  por  dois motivos: 
  • A Glória de Deus visível das Criaturas (Romanos 1:20)
  • Nosso Próprio Benefício
Após  Galileu  e Kepler os centros científicos se  deslocaram  da Itália católica e Alemanha luterana para países calvinistas: Inglaterra,  Holanda e França.  Em 1662 é fundada a Royal Society de Londres e em 1666 a Academia de Ciências de Paris.

A  Holanda  perde terreno no século XVIII enquanto Suíça e  Escócia, berços do calvinismo formavam notáveis cientistas.  Na Alemanha e Itália só no século XIX que apareceram novos cientistas com a  mesma envergadura de Kepler e Galileu.

Os reformadores protestantes,  Calvino em particular,  levantaram as  mais veementes objeções contra a concepção medieval do  cosmo baseado  no conceito de hierarquia,  arraigado na idéia de que  o universo  era  composto  de seres que se encadeavam em  ordem  de perfeição  decrescente a partir de Deus.   os  cientistas  também seguiam  linhas semelhantes de contestação,  e juntamente com  os protestantes   prepararam  caminho  para  a  concepção  mecânico-teológica do universo (século XVIII Newton).

"Ao governo assim constituído - escreveu Calvino - alguns deram o nome de hierarquia,  denominação a meu ver imprópria e certamente não  empregada  nas Escrituras.   Pois foi desígnio  do  Espírito Santo  dispor  que  ninguém devesse ter  sonhos  de  primazia  ou dominação  relativos ao governo da Igreja".   Calvino ainda disse não  haver  "razão  para  sutis  comparações  filosóficas   entre hierarquias  celeste  e terrestre" principalmente porque o  homem não  pode  ter certeza da existência de  hierarquia  celeste.   A teologia  calvinista  suprime os anjos do  governo  do  universo.  Deus governa diretamente, Soberano e Absoluto.
Segundo    Calvino,    Deus   havia   predeterminado   todos   os acontecimentos  - "Deus  governa e dispõe de todas as  coisas"  - tudo  segue  "exatamente  o curso  por  Ele  traçado".   Para  os protestantes  calvinistas,  a  atividade do mundo era metódica  e inteiramente predeterminada,  preparando caminho para a filosofia do determinismo mecanicista.  Os  protestantes não eram cientistas em primeiro  lugar.   Apenas apresentavam  uma  visão de mundo na qual a ciência e a  Fé  podem coexistir de forma construtiva apesar de possíveis divergências.

Os  primeiros cientistas também mudaram a concepção do  universo.  Copérnico  rejeitava  implicitamente,  a gradação  dos  elementos materiais,   pois  atribuía  à  terra  aquela  circularidade   de movimento,  que  até  então  havia sido prerrogativa  da  matéria celeste.  Acentuava a semelhança do nosso planeta com os  demais ao  atribuir  aos  corpos do firmamento a  propriedade  de  força gravitacional  anteriormente  peculiar aos  elementos  terrestres mais   inferiores  - terra  e água.    Thedicus,   discípulo  de Copérnico,  não  admitia  que  as  esferas  celestes  superiores governavam  os movimentos das inferiores.   Copérnico promoveu  a teoria do domínio absoluto do Sol sobre o sistema solar.

O  Sol,  pensava  Gilbert - era o corpo mais nobre  do  universo, "pois faz com que os planetas avancem em seu  curso",  procedendo como  o  principal  incitador  da ação  da  natureza.   "A  terra partilhava da mesma situação dos outros planetas,  porque além de "seu movimento ser executado com o mesmo pequeno esforço  exigido para  os  dos outros corpos celestes,  não lhes era  inferior  em nobreza"  Ao rejeitar o conceito de hierarquia,  Gilbert parece, na realidade, ter pressentido alguma relação entre a teologia e a filosofia da natureza.

"O Sol não é arrastado pela esfera de Marte (se é que este possui esfera), ou pelo seu movimento;  nem Marte pela esfera de Júpter, nem  Júpter  pela  de Saturno"  - afirmava  Gilbert.   "A  esfera superior  não tiraniza a inferior,  pois o céu tanto do  filósofo como do teólogo deve ser suave,  feliz tranqüilo, e não sujeito a mudanças."

Com  Kepler,  a conexão tornou-se mais explícita:   determinou  a localização  do  Dirigente teológico do cosmo no poder físico  de governar do sistema solar.   Isso também ocorreu com Robert Fludd (1574-1637) e John Baptist van Helmont (1577-1644).

O   ensaísta  francês  Montaigne  (1533-1592)  escreveu   que   a arrogância  levava o homem a "ousar colocar-se,  pela imaginação, acima  do círculo da Lua e a sujeitar o céu a seus pés.   É  pela vaidade  dessa  mesma  imaginação que  ousa  igualar-se  a  Deus, atribuir-se  condição  divina,  apartar-se  do comum  das  outras criaturas".   Em sua forma ampla - pela qual se supunha haver uma infinidade de mundos habitados no universo - a doutrina tendeu  a atribuir  a  mesma condição a todos os seres finitos.   Após  ter abandonado a ciência pela religião, escreveu Pascal (1623-1662):  "Comparados a esse infinito,  todos os finitos são iguais,  e  eu não  vejo razão para fixar nossa imaginação mais em um do que  em outro.  A “única comparação que fazemos de nós mesmos com o finito nos é penosa".

A  maioria  dos  filósofos da natureza do século  XVII  aceitaram  a doutrina  da  pluralidade  dos mundos.   Tycho  Brahe,  Kepler  e Galileu pensavam que os planetas do sistema solar eram habitados, enquanto que Descartes, por sua vez, acreditava haver no universo uma pluralidade de sistemas solares habitados.

No século XVII,  tal doutrina contribuiu para reconciliar a teologia calvinista  com  as  teorias da  ciência  moderna.   O  principal obstáculo  a  essa  reconciliação - a  interpretação  literal  da Bíblia  - perdeu  na Inglaterra muito de sua  importância,  com  a expansão  de  um movimento científico coerente  e  organizado  na década de 1640.

John  Wilkins  (1614-1672) clérico puritano em 1638 publicou  sua obra  "Descoberta  de  um Mundo  Novo",  onde  tentava  provar  a existência  de  um outro mundo;   reconciliando assim a  teologia calvinista  com  as teorias da ciência  moderna.   John  Wilkins, líder do "Philosophical Colege" (grupo de cientistas - 1644)  não fundamentou   em  textos  bíblicos  (embora  alguns  fossem   até favoráveis) sua obra.  Defendeu a teoria heliocêntrica, e baseado na  possibilidade  de  existência  de montanhas e  mares  na  Lua afirmou:   "Os céus não são constituídos de nenhuma matéria pura, que  os  possa isentar das transformações e decomposições  a  que estão sujeitos os corpos inferiores".   "Podemos supor, em geral, que  haja alguns habitantes nesse planeta;   pois então  por  que iria  a Providência Divina dotar tal lugar de todas as  condições de cômoda habitabilidade?"

Conseqüência  semelhante  - notou  Wilkins  - emanava  da  teoria heliocêntrica  do mundo,  adotada pelos discípulos de  Copérnico:  "Se  a  nossa  terra é um dos planetas (como de fato o  era  para eles),  então  por que não pode qualquer um deles ser também  uma terra?"
Sua obra seguinte em 1640 - Discurso sobre um Novo Planeta  - foi uma  defesa  completa da referida teoria  heliocêntrica.   Grande parte  do  livro  (cerca  da  metade)  procurava  conciliar  essa concepção  com  os  textos  bíblicos,   que  pareciam  aprovar  o movimento  diurno  dos corpos celestes e opunham-se à  teoria  do movimento  da  terra.   Aqui  rejeitou  novamente  o  costume  de interpretar as Escrituras  de forma literal, declarando não ser a Bíblia  um  tratado  de  filosofia e sim  uma  obra  destinada  à capacidade de compreensão das inteligências comuns.

Em  apoio  a  idéia  de  Copérnico,  Wilkins  reuniu  a  teologia calvinista e a filosofia da natureza então vigente.  Examinando a teoria  medieval  do movimento dos corpos  celestes,  rejeitou  a concepção  hierárquica  do governo cósmicos e adotou  o  ponto  de vista  calvinista de que os anjos eram totalmente desnecessários, estando o universo sob o poder direto de Deus.

O argumento de Wilkins, ilustrava seu princípio mais geral de que os  processo naturais se regiam por uma regra de  economia.   Era "agradável  à  sabedoria da Providência" - notou - o  fato  de  a natureza  nunca empregar quaisquer meios difíceis e tediosos para realizar o que poderia alcançar da mesma forma através de  outros mais  curtos  e  simples.    Tal  idéia  foi  talvez  o  conceito originário dos vários princípios do "minimum", enunciados durante o  desenvolvimento da ciência moderna:   o princípio de Fermat de que no reflexo e na refração a luz percorre distâncias no  mínimo tempo  possível (1662);   o princípio de Leibniz,  pelo qual a luz segue  o caminho que menor resistência lhe oferece (1682);   e  o princípio geral da mínima ação,  de Maupertuis (1744),  aplicado a inúmeros fenômenos físicos.

Ao mesmo tempo que pensava se realizarem os processos de mutações no universo segundo a lei do mínimo esforço,  acreditava  Wilkins haver uma diversidade máxima de seres.

"Talvez  haja  muitas outras espécies de criaturas além  das  já conhecidas  no mundo.   'E provável que Deus as crie de  todas  as espécies,  para  assim  Se glorificar de modo mais  completo  nas obras de Seu poder e sabedoria".   Essa idéia não era nova,  pois constituía  a base da concepção tradicional do mundo.   O  'ultimo teólogo  medieval,  Raymond  de  Sebonde,  havia  semelhantemente afirmado  a  existência  de grande e variada  multidão  de  seres angélicos.

No  entanto,  Wilkins,  contrariamente  a Sebonde,  considerou  a cadeia  de criaturas uma simples escala de perfeição,  e não  uma hierarquia  de poderes.   Giordano Bruno (1548-1600) que  pôs  em voga  nos  tempos modernos a doutrina de pluralidade dos  mundos, mostrava como era possível conciliar a noção tradicional  (escala de  seres segundo a sua perfeição) com a concepção nova de  todos os  seres,  exceto o Governante Supremo,  tinham poderes mais  ou menos  iguais.   Supunha  haver  Deus dado a cada ser  uma  fonte interna de poder, de modo a tornar todas as criaturas autônomas e libertas das tradicionais relações de dominação e sujeição de uns sobre  os  outros.   Wilkins inclinou-se a  admitir  essa  idéia.  Outro ponto de vista, de adoção mais generalizada, e derivando da filosofia  cartesiana,  subordinava os acontecimento físicos a um único poder - o do movimento mecânico,  que atingia  externamente os  seres.   Todas  as  criaturas  eram  máquinas,  de  perfeição variável  segundo a complexidade de seu mecanismo ou grau de  sua organização.
Supunha-se  que  nesse universo,  contendo máxima diversidade  de seres  e onde o movimento era efetuado com o mínimo  de  esforço, não  poderiam  ocorrer modificações fundamentais nem se  realizar progresso  de importância,  pois que a natureza já  alcançava  um estado de perfeição imbatível.

O  filósofo alemão Leibniz (1646-1716) pensava também que o nosso é  o melhor de todos os mundos possíveis e que  "repousa sobre  a consideração do máximo do mínimo, de forma tal que o maior efeito é obtido,  por assim dizer,  com o mínimo dispêndio".   Assim,  o sistema  solar era uma máquina autopropulsora,  enquanto  que  as espécies  orgânicas se fixavam para sempre nas formas diversas em que haviam sido inicialmente criadas.

Foi  nesse  ponto  que a aliança entre teologia  protestante  e  a ciência  moderna  se romperu por fim;   a  aparição  das  teorias evolucionistas  do século XIX pôs termo à concepção de que o mundo e suas   criaturas  conservaram  sua  forma  atual  desde  toda   a eternidade.   A  ciência então não mais pareceu compatível com  a teologia protestante,  o que acarretou,  durante o século XIX, forte oposição   religiosa  às  teorias  evolucionistas,   nos   países protestantes.  Entretanto,  essa aliança durara século e meio;  e nesse lapso de tempo  o  sistema  físico-teológico  de  Newton  granjeara  geral aceitação nos círculos intelectuais.

Na  Inglaterra,  a teoria newtoniana encontrou  pequena  oposição religiosa,   pois  Wilkins  e  os  homens  de  sua  geração tinham suportado  o impacto da resistência anglicana à nova astronomia e tornado  explícito  os traços comuns à revolução científica  e  à Reforma  calvinista.   na  Inglaterra  do  século  XVII,  ciência  e religião haviam adotado o objetivo baconiano de contribuir para o "alívio  da  condição humana":   aquela,  através  de  aplicações científicas;    esta   mediante  a  realização  de  boas   obras, identificando-se ambas no mesmo objetivo.   No campo das  idéias, tanto  a ciência moderna como a teologia calvinista  afastaram-se da  concepção hierárquica do governo do cosmo,  no qual penetrava um elemento de arbítrio,  com vistas a uma teoria absolutista  do governo do universo, pela qual os acontecimentos estavam sujeitos a  leis certas e irrevogáveis.   Entre estas predominavam as  que prescreviam  dever a ação conservar-se - ou ser - mínima em  todos os movimentos,  a fim de preservar o padrão de perfeição imutável do universo.  Servia a essa mesma finalidade a suposta existência de  uma  multiplicidade  máxima de  criaturas  formando  contínua cadeia de seres.  A gradação das criaturas em uma escala de seres continuava  na maioria dos casos como um princípio que permitia  a classificação  de animais,  plantas e outros entes segundo certas características   fixas,   tais  como  a  complexidade   de   sua organização;   porém  não  era mais um princípio determinante  do movimento de ação, no mundo natural.

Todavia,  Lamark e outros não tardariam a sugerir que a cadeia de animais  e  plantas  não era uma escala  estática ,mas  uma  serie evolutiva  ramificada;   dessa forma atrairiam para a  finalidade histórica  por eles visada uma concepção que havia sido  comum  à teologia  católica  e  à  protestante,  à  antiga  filosofia  da natureza e à ciência moderna incipiente.

Isaac Newton (1642-1727)

"Visão unificada dum sistema de conhecimento que compreendesse as ciências físicas e Divina, revelando as leis do mundo criado e os planos do seu Criador"

Quando perguntaram, certa vez, a Isaac Newton como fizera as suas grandes descobertas, respondeu:  "pensando sempre nelas".  Também se conta que teria dito:   "Mantenho o tema constantemente diante de  mim e espero que os clarões da alvorada,  pouco a  pouco,  se transformem em plena luz."  Esta capacidade de concentração é uma qualidade  particular do gênio de Newton e se ajusta muito bem ao seu caráter e personalidade.   Pois foi um homem  solitário,  sem amigos  próximos ou 'íntimos,  sem confidentes.   Nunca se casou e passou  a  juventude sem pai (que morreu antes  do  nascimento  do jovem Isaac,  no Natal de 1642) e sem mãe (que se casou dois anos depois e deixou o filho para ser criado por uma avó idosa).
Um   homem  solitário,   desenvolveu  "poderes  excepcionais   de introspecção  contínua  e concentrada.   Nestas  palavras,  lorde Kaeynes, o economista, biógrafo de Newton, sintetizou o "poder de manter  continuamente na sua mente um problema puramente  mental, durante horas,  dias e semanas,  até que ele lhe entregasse o seu segredo".   Aí então,  de acordo com o seu caráter  introvertido, ficava  Newton  satisfeito  em guardar a sua descoberta  para  si mesmo,  sem  publicá-la  rapidamente,  conforme os  seus  colegas cientistas  da época gostavam de fazer,  sem mesmo comunicar  aos seus associados o que tinha feito.   Já se disse,  por isso,  que toda  descoberta  de Newton teve duas fases:   a  descoberta  era feita por Newton;   os outros tinham,  então, que descobrir o que ele havia feito.

Em 1648, Edmund Halley (astrônomo em honra de quem 'e denominado o cometa Halley) foi a Londres, vindo de Cambridge, onde Newton era professor, para consultá-lo sobre um problema que havia derrotado os maiores cientistas da Royal Society (a mais antiga  associação científica existente), inclusive Robert Hooke (da lei de Hooke) e Christopher  Wren  (arquiteto  e cientista).   Que  "curva  seria descrita pelos planetas",  perguntou Halley a Newton,  "admitindo que a força de atração para o sol seja inversamente  proporcional ao   quadrado   da  distância  entre  eles?"    Newton   replicou imediatamente que "seria uma elípse".  Halley, louco de alegria e admiração,  perguntou como ele sabia.   "Ora",  disse ele,  "eu a calculei".   Nestas  palavras finais,  Newton revelava que  havia resolvido  o  maior problema do século:   Determinar a força  que mantinha  a unidade  do  sistema solar,  a causa  de  os  planetas orbitarem  em  torno do sol,  segundo as leis de  Kepler,  e  que também provoca o mesmo movimento,  regido pelas mesmas leis,  nos satélites que giram em torno dos planetas.

"A  sua resposta a Halley ("eu a calculei") revela o  caráter  do homem,  pois  ele  ficara  satisfeito simplesmente  em  fazer  os cálculos,  e  não  correra a tornar conhecida a  mais  importante descoberta científica da 'época:  A lei da gravitação universal.

As sementes das grandes realizações de Newton em ciência datam de um  período de cerca de 18 meses após a graduação na Universidade (1665-1667),  quando o temor da peste negra provocou o fechamento da  universidade  e  o  seu retorno  a`  fazenda  da  família,  em Woolsthorpe,  Lincolnshire, onde nascera.  Aí ele efetuou as suas mais  fundamentais  contribuições `a  matemática,  os  métodos  do cálculo  diferencial  e integral (invenção cujo crédito deve  ser repartido com o filósofo e matemático germânico  G.  W.  Leibniz, co-inventor  independente).   Durante  o  mesmo  período,  Newton descobriu  a lei do inverso do quadrado e testou-a por um cálculo grosseiro do movimento da Lua.

Newton não só realizou trabalhos de matemática pura, mas fundou a ciência   da  mecânica  celeste,   desenvolveu  um  conjunto   de descobertas  no  campo  da 'ótica,  estudando  a  luz,  a  cor,  a interferência, etc.

Este conjunto de descobertas é notável para uma vida inteira e só podemos admirar,  com espanto,  como foi possível,  num espaço de tempo tão curto,  que um jovem, apenas formado pela universidade, pudesse legar contribuições tão fundamentais `a matemática pura, `a mecânica celeste teórica e `a dinâmica,  e `a física  experimental.  Conforme Newton afirmou depois:   "Tudo isto foi nos dois anos da peste,  em  1665  e 1666,  pois naqueles dias estava na força  da minha idade de invenção, e pensava mais em matemática e filosofia que em qualquer tempo depois.

O restante da vida científica de Newton foi devotado à elaboração das descobertas fundamentais que havia feito. 

Em  1690,  Newton ficou desencantado (ou aborrecido) com  a  vida fechada  de professor da universidade,  e mudou-se para  Londres, onde se tornou diretor da moeda,  posto que ocupou até sua morte.  Tornou-se  presidente  da  Royal  Society  e  dirigiu  a  ciência britânica  com  um firme controle.   Durante os anos em  Londres, publicou  duas  edições  revistas do  Principia  (1713  e  1726), publicou seu livro sobre óptica (1704 e outra edições) e diversos tratados  de  matemática.   Morreu em 1727 e foi  enterrado,  com honras nacionais, na Abadia de Wistminster. 

A  partir  dos  primeiros anos de  vida  adulta,  Newton  dedicou somente  pequena  fração  da sua  vida  intelectual  a  objetivos científicos ortodoxos:   matemática pura e aplicada, astronomia e mecânica  celeste,   dinâmica,   física  experimental  e  óptica.  Durante  a maioria dos anos da sua vida foi um ardente  estudioso de  teologia,  lendo  e  tomando  inumeráveis  notas,  escrevendo artigos e mesmo livros sobre questões religiosas.   Alguns destes trabalhos  tratam  de questões fundamentais de  interpretação  da doutrina teológica, outros, do significado dos livros de profecia da  Bíblia,  e outros,  ainda,  do problema do esclarecimento  da história  da  Igreja.   Desenvolveu  também um  sistema  novo  de cronologia universal baseado em parte na astronomia, o qual porém não teve grande valor.   O objeto principal dos seus estudo era a alquimia,  que  lia  extensamente,  copiando seções  inteiras  de livros,  fazendo  experiências,  tudo  com  um objetivo  que  não conhecemos.

Através das suas leituras de filósofos místicos, de teólogos e de alquimistas  especulativos,  Newton pode ter adquirido uma  visão unificada  dum  sistema  de  conhecimento  que  compreendesse  as ciências física e divina,  revelando as leis do mundo criado e os planos  de  seu  criador.   Diversos indícios  deste  aspecto  do pensamento  de  Newton aparecem em seu  escritos.   Por  exemplo, "...e assim,  discutir Deus, a partir dos fenômenos, é próprio da filosofia  experimental".   Talvez  tenha  sido  esta  visão  dum conhecimento que nunca atingiu que o tenha levado a  desvalorizar suas  monumentais realizações científicas.  Pois pouco antes  da sua morte comentou:  "Não sei como aparecerei para o mundo.  Para mim  mesmo,   me  vejo  como  um  garoto,   brincando  na  praia, divertindo-se  aqui e ali por achar uma pedra mais polida ou  uma concha  mais  bonita que as outras,  enquanto o grande oceano  da verdade permanece desconhecido em minha frente."

Fontes Bibliograficas

Stephen F.  Mason, "A History of the Sciences",  Collier  Books, New York (1962)
Edward  McNall Burns, "História da Civilização  Ocidental",  Ed Globo, Porto Alegre RS (1965)
Paul  A.  Tipler - "Física",  Guanabara Dois,  Rio de Janeiro RJ, (1978)
Bernard Cohen, "Isaac Newton", Artigo da Harvard University


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