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HISTÓRIA:
A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E A
REFORMA PROTESTANTE (1517-1600)
A Ciência Plena é a Ciência que Inclui Todas as Possibilidades
Ao longo da história da humanidade as ciências exatas têm evoluído de uma maneira extraordinária através de inúmeras descobertas, invenções, teorias e experiências que revelam a magnífica capacidade do homem de analisar e solucionar os seus problemas e as suas perguntas.
Trata-se de uma enorme variedade de respostas e soluções justificadas com raciocínios precisos, lógicos, criativos e harmoniosos. Diante de tamanha prova de capacidade e inteligência, muitas vezes parece difícil associar todas as conquistas científicas com a figura do próprio homem, tão emocional, instável, efêmero e sensível a tudo que o cerca.
É fundamental entender que por trás da mais complexa, difícil e precisa descoberta da ciência, está um homem com expectativa de não mais que cem anos de vida, que sofre, e apesar de toda sua capacidade, também se emociona diariamente por motivos os mais variados e ilógicos que se possa imaginar.
Na realidade é esse lado subjetivo e a pacífica convivência com ele que faz o homem seguir. Guerrear contra as emoções, a fé e a esperança que existe no ser humano só o faz perder tempo numa luta onde a própria ciência acaba sendo prejudicada pela falta de correspondência com a realidade humana. Aceitar o lado subjetivo do ser humano e continuar perseguindo os objetivos científicos deveria ser o caminho natural. Mas deixar de reconhecer o desejo do homem em viver eternamente, entender sua origem e buscar Deus, é apenas somar orgulho com ingenuidade.
Sejamos maduros e busquemos a ciência sem negarmos a nossa própria realidade limitada curvando-nos a possibilidade, e para alguns privilegiados a certeza, de que Deus existe.
Afinal, se alguns baseados na fé dizem
provar sua existência, todos os outros sem a fé não conseguem
provar o contrário.
O Domínio do Protestantismo entre os Grandes
Cientistas da Europa Moderna
Alphonse Candolle, botânico francês iniciou em 1873 pesquisas sobre a predominância dos adeptos do protestantismo entre os grandes vultos europeus da Ciência Moderna. Candolle registrou que dos 92 membros estrangeiros da Academia de Ciência de Paris eleitos nos dois primeiros séculos de sua fundação (1666), 71 eram protestantes, 16 católicos e 5 judeus ou de credo indeterminado.
Comparando estas cifras com a dos correspondentes grupos religiosos fora da França - 107 milhões de católicos e 68 milhões de protestantes - Candolle mostrou que o número de protestantes estrangeiros, eminentes o bastante para integrarem a Academia, era mais de 6 vezes maior que o de católicos. Tal confronto não incluía os cientistas franceses.
Examinando as filiações religiosas dos membros estrangeiros da Royal Society de Londres em 1829 e 1869, observou em ambas as datas uma equivalência entre católicos e protestantes, apesar de, fora do Reino Unido haver 139 milhões de católicos e apenas 44 milhões de protestantes.
Estudos posteriores sobre as crenças religiosas dos cientistas da Europa Moderna (arroladas por R. K. Merton) tem confirmado e ampliado o sentido geral das pesquisas de Candolle.
Fatores aos Quais se
Atribui a Predominância dos Protestantes
Além do fato de não existir naquela época uma inquisição nos países protestantes, três principais fatores explicam essa participação tão expressiva: a harmonia entre a 'Ética Luterana e a atitude de indagação científica; a utilização da ciência para fins religiosos (por parte de alguns seguidores calvinistas); a concordância entre os valores cósmicos da Teologia protestante e os das primeiras teorias científicas modernas.
A Ética Protestante em
Harmonia com a Indagação Científica
Os principais movimentos protestantes (alemão e suíço) ensinaram que o homem deveria interpretar as escrituras por sua própria conta, sem a necessidade da intermediação dos sacerdotes da fé católica, ou qualquer outro intermediário. Analogamente os primeiros cientistas modernos afastaram-se dos filósofos antigos e dos escolásticos medievais para procurarem a verdade científica em sua própria experiência: interpretarem a natureza por si mesmos. Thomas Sprat em 1667 chamava a atenção para a "concordância existente entre os desígnios atuais da Royal Society e os de nossa Igreja, em seus primórdios".
Segundo Sprat, ambas seguiram trilhas semelhantes para atingir seus objetivos, uma reformou a Filosofia a outra a Religião. Os protestantes deixaram de lado cópias adulteradas da Bíblia e passaram a usar os originais. Os cientistas abandonaram teorias da antigüidade. Ambas foram acusadas pelos seus inimigos de abandonarem as tradições. Ambas seguiram o preceito Bíblicos do Apóstolo Paulo "examinai tudo, retende o que é bom" (I Tessalonicenses 5:21).
Utilização da Ciência para Fins Religiosos
Os puritanos ingleses, de origem calvinista, acentuaram o dever religioso de praticar "boas obras" e colocava a atividade científica entre as mesmas, pois eram consideradas úteis para a humanidade. Ocorre porém, que a "justificação pela Fé" era o verdadeiro conceito original de salvação dos protestantes, e não pelas obras como alguns seguidores calvinistas escoceses, holandeses e ingleses poderiam aparentar demonstrar em suas doutrinas.
Os protestantes eram incentivadores da prática da ciência como uma obra proveitosa, mas não atribuíam a salvação a nada senão a fé cristã.
Dos dois fatores examinados até aqui, relativos à prevalência dos protestantes entre os cientistas da Europa Moderna, foi talvez o segundo - assinalado entre os Calvinistas do século XVII - o de maior peso. O antiautoritarismo e o individualismo, empírico, comuns aos primeiros protestantes e aos cientistas modernos haviam determinado, na melhor das hipóteses, uma relação harmônica entre sua ciência e religião. Já o incentivo das boas obras, pelos últimos calvinistas deu impulso positivo à atividade científica.
Harmonia entre os Valores Cósmicos
Protestantes e a Ciência Moderna
Lutero e Calvino opunham-se à nova astronomia de Copérnico, baseados no argumento de que ele entrava em conflito com a letra das Escrituras. Não obstante isso, a concepção medieval do mundo compusera-se de uma Teologia e de uma Filosofia da Natureza estreitamente integradas entre si; e sua superação foi realizada de forma simultânea, embora gradativa, de um lado pelos reformadores protestantes, que atacaram os elementos teológicos, e de outro pelos cientistas, que investiram contra os fatores cosmológicos. Na realidade, é possível perceber terem as arremetidas de calvinistas e cientistas seguido linhas algo semelhantes, e tanto umas como outras preparado o caminho para uma nova concepção mecânico-teológica do universo, fundada na obra de Newton, de considerável popularidade no século XVIII.
Contribuições da Reforma Protestante para a Ciência
Moderna
Em 1540 na Universidade de Wittenberg, centro da Reforma alemã, o matemático Rheticus, juntamente com Copérnico, desenvolveram estudos da teoria heliocêntrica e estudaram o movimento de Marte. O astrônomo Reinhold preparou as Tábuas Prussianas baseadas também na teoria de Copérnico e publicadas em 1551.
Em 1654 John Cotton, teólogo puritano
calvinista declarou que o estudo da natureza era um
verdadeiro dever cristão por dois motivos:
- A
Glória de Deus visível das Criaturas (Romanos 1:20)
- Nosso
Próprio Benefício
Após Galileu e Kepler os centros
científicos se deslocaram da Itália católica e Alemanha luterana
para países calvinistas: Inglaterra, Holanda e França. Em 1662 é
fundada a Royal Society de Londres e em 1666 a Academia de Ciências de Paris.
A Holanda perde terreno no século XVIII enquanto Suíça e Escócia, berços do calvinismo formavam notáveis cientistas. Na Alemanha e Itália só no século XIX que apareceram novos cientistas com a mesma envergadura de Kepler e Galileu.
Os reformadores protestantes, Calvino em particular, levantaram as mais veementes objeções contra a concepção medieval do cosmo baseado no conceito de hierarquia, arraigado na idéia de que o universo era composto de seres que se encadeavam em ordem de perfeição decrescente a partir de Deus. os cientistas também seguiam linhas semelhantes de contestação, e juntamente com os protestantes prepararam caminho para a concepção mecânico-teológica do universo (século XVIII Newton).
"Ao governo assim constituído - escreveu Calvino - alguns deram o nome de hierarquia, denominação a meu ver imprópria e certamente não empregada nas Escrituras. Pois foi desígnio do Espírito Santo dispor que ninguém devesse ter sonhos de primazia ou dominação relativos ao governo da Igreja". Calvino ainda disse não haver "razão para sutis comparações filosóficas entre hierarquias celeste e terrestre" principalmente porque o homem não pode ter certeza da existência de hierarquia celeste. A teologia calvinista suprime os anjos do governo do universo. Deus governa diretamente, Soberano e Absoluto.
Segundo
Calvino, Deus havia
predeterminado todos os acontecimentos -
"Deus governa e dispõe de todas as coisas" -
tudo segue "exatamente o curso por Ele
traçado". Para os protestantes calvinistas,
a atividade do mundo era metódica e inteiramente
predeterminada, preparando caminho para a filosofia do determinismo
mecanicista. Os protestantes não eram cientistas em
primeiro lugar. Apenas apresentavam uma visão de
mundo na qual a ciência e a Fé podem coexistir de forma construtiva
apesar de possíveis divergências.
Os primeiros cientistas também mudaram a concepção do universo. Copérnico rejeitava implicitamente, a gradação dos elementos materiais, pois atribuía à terra aquela circularidade de movimento, que até então havia sido prerrogativa da matéria celeste. Acentuava a semelhança do nosso planeta com os demais ao atribuir aos corpos do firmamento a propriedade de força gravitacional anteriormente peculiar aos elementos terrestres mais inferiores - terra e água. Thedicus, discípulo de Copérnico, não admitia que as esferas celestes superiores governavam os movimentos das inferiores. Copérnico promoveu a teoria do domínio absoluto do Sol sobre o sistema solar.
O Sol, pensava Gilbert - era o corpo mais nobre do universo, "pois faz com que os planetas avancem em seu curso", procedendo como o principal incitador da ação da natureza. "A terra partilhava da mesma situação dos outros planetas, porque além de "seu movimento ser executado com o mesmo pequeno esforço exigido para os dos outros corpos celestes, não lhes era inferior em nobreza" Ao rejeitar o conceito de hierarquia, Gilbert parece, na realidade, ter pressentido alguma relação entre a teologia e a filosofia da natureza.
"O Sol não é arrastado pela esfera de Marte (se é que este possui esfera), ou pelo seu movimento; nem Marte pela esfera de Júpter, nem Júpter pela de Saturno" - afirmava Gilbert. "A esfera superior não tiraniza a inferior, pois o céu tanto do filósofo como do teólogo deve ser suave, feliz tranqüilo, e não sujeito a mudanças."
Com Kepler, a conexão tornou-se mais explícita: determinou a localização do Dirigente teológico do cosmo no poder físico de governar do sistema solar. Isso também ocorreu com Robert Fludd (1574-1637) e John Baptist van Helmont (1577-1644).
O ensaísta francês Montaigne (1533-1592) escreveu que a arrogância levava o homem a "ousar colocar-se, pela imaginação, acima do círculo da Lua e a sujeitar o céu a seus pés. É pela vaidade dessa mesma imaginação que ousa igualar-se a Deus, atribuir-se condição divina, apartar-se do comum das outras criaturas". Em sua forma ampla - pela qual se supunha haver uma infinidade de mundos habitados no universo - a doutrina tendeu a atribuir a mesma condição a todos os seres finitos. Após ter abandonado a ciência pela religião, escreveu Pascal (1623-1662): "Comparados a esse infinito, todos os finitos são iguais, e eu não vejo razão para fixar nossa imaginação mais em um do que em outro. A “única comparação que fazemos de nós mesmos com o finito nos é penosa".
A maioria dos filósofos da natureza do século XVII aceitaram a doutrina da pluralidade dos mundos. Tycho Brahe, Kepler e Galileu pensavam que os planetas do sistema solar eram habitados, enquanto que Descartes, por sua vez, acreditava haver no universo uma pluralidade de sistemas solares habitados.
No século XVII, tal doutrina contribuiu para reconciliar a teologia calvinista com as teorias da ciência moderna. O principal obstáculo a essa reconciliação - a interpretação literal da Bíblia - perdeu na Inglaterra muito de sua importância, com a expansão de um movimento científico coerente e organizado na década de 1640.
John Wilkins (1614-1672) clérico puritano em 1638 publicou sua obra "Descoberta de um Mundo Novo", onde tentava provar a existência de um outro mundo; reconciliando assim a teologia calvinista com as teorias da ciência moderna. John Wilkins, líder do "Philosophical Colege" (grupo de cientistas - 1644) não fundamentou em textos bíblicos (embora alguns fossem até favoráveis) sua obra. Defendeu a teoria heliocêntrica, e baseado na possibilidade de existência de montanhas e mares na Lua afirmou: "Os céus não são constituídos de nenhuma matéria pura, que os possa isentar das transformações e decomposições a que estão sujeitos os corpos inferiores". "Podemos supor, em geral, que haja alguns habitantes nesse planeta; pois então por que iria a Providência Divina dotar tal lugar de todas as condições de cômoda habitabilidade?"
Conseqüência semelhante - notou Wilkins - emanava da teoria heliocêntrica do mundo, adotada pelos discípulos de Copérnico: "Se a nossa terra é um dos planetas (como de fato o era para eles), então por que não pode qualquer um deles ser também uma terra?"
Sua obra seguinte em 1640 - Discurso sobre um Novo
Planeta - foi uma defesa completa da referida teoria
heliocêntrica. Grande parte do livro (cerca
da metade) procurava conciliar essa concepção
com os textos bíblicos, que pareciam
aprovar o movimento diurno dos corpos celestes e opunham-se
à teoria do movimento da terra. Aqui
rejeitou novamente o costume de interpretar as
Escrituras de forma literal, declarando não ser a Bíblia um
tratado de filosofia e sim uma obra
destinada à capacidade de compreensão das inteligências comuns.
Em apoio a idéia de Copérnico, Wilkins reuniu a teologia calvinista e a filosofia da natureza então vigente. Examinando a teoria medieval do movimento dos corpos celestes, rejeitou a concepção hierárquica do governo cósmicos e adotou o ponto de vista calvinista de que os anjos eram totalmente desnecessários, estando o universo sob o poder direto de Deus.
O argumento de Wilkins, ilustrava seu princípio mais geral de que os processo naturais se regiam por uma regra de economia. Era "agradável à sabedoria da Providência" - notou - o fato de a natureza nunca empregar quaisquer meios difíceis e tediosos para realizar o que poderia alcançar da mesma forma através de outros mais curtos e simples. Tal idéia foi talvez o conceito originário dos vários princípios do "minimum", enunciados durante o desenvolvimento da ciência moderna: o princípio de Fermat de que no reflexo e na refração a luz percorre distâncias no mínimo tempo possível (1662); o princípio de Leibniz, pelo qual a luz segue o caminho que menor resistência lhe oferece (1682); e o princípio geral da mínima ação, de Maupertuis (1744), aplicado a inúmeros fenômenos físicos.
Ao mesmo tempo que pensava se realizarem os processos de mutações no universo segundo a lei do mínimo esforço, acreditava Wilkins haver uma diversidade máxima de seres.
"Talvez haja muitas outras espécies de criaturas além das já conhecidas no mundo. 'E provável que Deus as crie de todas as espécies, para assim Se glorificar de modo mais completo nas obras de Seu poder e sabedoria". Essa idéia não era nova, pois constituía a base da concepção tradicional do mundo. O 'ultimo teólogo medieval, Raymond de Sebonde, havia semelhantemente afirmado a existência de grande e variada multidão de seres angélicos.
No entanto, Wilkins, contrariamente a Sebonde, considerou a cadeia de criaturas uma simples escala de perfeição, e não uma hierarquia de poderes. Giordano Bruno (1548-1600) que pôs em voga nos tempos modernos a doutrina de pluralidade dos mundos, mostrava como era possível conciliar a noção tradicional (escala de seres segundo a sua perfeição) com a concepção nova de todos os seres, exceto o Governante Supremo, tinham poderes mais ou menos iguais. Supunha haver Deus dado a cada ser uma fonte interna de poder, de modo a tornar todas as criaturas autônomas e libertas das tradicionais relações de dominação e sujeição de uns sobre os outros. Wilkins inclinou-se a admitir essa idéia. Outro ponto de vista, de adoção mais generalizada, e derivando da filosofia cartesiana, subordinava os acontecimento físicos a um único poder - o do movimento mecânico, que atingia externamente os seres. Todas as criaturas eram máquinas, de perfeição variável segundo a complexidade de seu mecanismo ou grau de sua organização.
Supunha-se que nesse universo,
contendo máxima diversidade de seres e onde o movimento era
efetuado com o mínimo de esforço, não poderiam ocorrer
modificações fundamentais nem se realizar progresso de
importância, pois que a natureza já alcançava um estado de
perfeição imbatível.
O filósofo alemão Leibniz (1646-1716) pensava também que o nosso é o melhor de todos os mundos possíveis e que "repousa sobre a consideração do máximo do mínimo, de forma tal que o maior efeito é obtido, por assim dizer, com o mínimo dispêndio". Assim, o sistema solar era uma máquina autopropulsora, enquanto que as espécies orgânicas se fixavam para sempre nas formas diversas em que haviam sido inicialmente criadas.
Foi nesse ponto que a aliança entre teologia protestante e a ciência moderna se romperu por fim; a aparição das teorias evolucionistas do século XIX pôs termo à concepção de que o mundo e suas criaturas conservaram sua forma atual desde toda a eternidade. A ciência então não mais pareceu compatível com a teologia protestante, o que acarretou, durante o século XIX, forte oposição religiosa às teorias evolucionistas, nos países protestantes. Entretanto, essa aliança durara século e meio; e nesse lapso de tempo o sistema físico-teológico de Newton granjeara geral aceitação nos círculos intelectuais.
Na Inglaterra, a teoria newtoniana encontrou pequena oposição religiosa, pois Wilkins e os homens de sua geração tinham suportado o impacto da resistência anglicana à nova astronomia e tornado explícito os traços comuns à revolução científica e à Reforma calvinista. na Inglaterra do século XVII, ciência e religião haviam adotado o objetivo baconiano de contribuir para o "alívio da condição humana": aquela, através de aplicações científicas; esta mediante a realização de boas obras, identificando-se ambas no mesmo objetivo. No campo das idéias, tanto a ciência moderna como a teologia calvinista afastaram-se da concepção hierárquica do governo do cosmo, no qual penetrava um elemento de arbítrio, com vistas a uma teoria absolutista do governo do universo, pela qual os acontecimentos estavam sujeitos a leis certas e irrevogáveis. Entre estas predominavam as que prescreviam dever a ação conservar-se - ou ser - mínima em todos os movimentos, a fim de preservar o padrão de perfeição imutável do universo. Servia a essa mesma finalidade a suposta existência de uma multiplicidade máxima de criaturas formando contínua cadeia de seres. A gradação das criaturas em uma escala de seres continuava na maioria dos casos como um princípio que permitia a classificação de animais, plantas e outros entes segundo certas características fixas, tais como a complexidade de sua organização; porém não era mais um princípio determinante do movimento de ação, no mundo natural.
Todavia, Lamark e outros não tardariam a sugerir que a cadeia de animais e plantas não era uma escala estática ,mas uma serie evolutiva ramificada; dessa forma atrairiam para a finalidade histórica por eles visada uma concepção que havia sido comum à teologia católica e à protestante, à antiga filosofia da natureza e à ciência moderna incipiente.
Isaac Newton (1642-1727)
"Visão unificada dum sistema de conhecimento que compreendesse as ciências físicas e Divina, revelando as leis do mundo criado e os planos do seu Criador"
Quando perguntaram, certa vez, a Isaac Newton como fizera as suas grandes descobertas, respondeu: "pensando sempre nelas". Também se conta que teria dito: "Mantenho o tema constantemente diante de mim e espero que os clarões da alvorada, pouco a pouco, se transformem em plena luz." Esta capacidade de concentração é uma qualidade particular do gênio de Newton e se ajusta muito bem ao seu caráter e personalidade. Pois foi um homem solitário, sem amigos próximos ou 'íntimos, sem confidentes. Nunca se casou e passou a juventude sem pai (que morreu antes do nascimento do jovem Isaac, no Natal de 1642) e sem mãe (que se casou dois anos depois e deixou o filho para ser criado por uma avó idosa).
Um homem solitário,
desenvolveu "poderes excepcionais de
introspecção contínua e concentrada. Nestas
palavras, lorde Kaeynes, o economista, biógrafo de Newton, sintetizou o
"poder de manter continuamente na sua mente um problema
puramente mental, durante horas, dias e semanas, até que ele
lhe entregasse o seu segredo". Aí então, de acordo com o
seu caráter introvertido, ficava Newton satisfeito em
guardar a sua descoberta para si mesmo, sem
publicá-la rapidamente, conforme os seus colegas cientistas
da época gostavam de fazer, sem mesmo comunicar aos seus associados
o que tinha feito. Já se disse, por isso, que
toda descoberta de Newton teve duas fases: a
descoberta era feita por Newton; os outros tinham,
então, que descobrir o que ele havia feito.
Em 1648, Edmund Halley (astrônomo em honra de quem 'e denominado o cometa Halley) foi a Londres, vindo de Cambridge, onde Newton era professor, para consultá-lo sobre um problema que havia derrotado os maiores cientistas da Royal Society (a mais antiga associação científica existente), inclusive Robert Hooke (da lei de Hooke) e Christopher Wren (arquiteto e cientista). Que "curva seria descrita pelos planetas", perguntou Halley a Newton, "admitindo que a força de atração para o sol seja inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles?" Newton replicou imediatamente que "seria uma elípse". Halley, louco de alegria e admiração, perguntou como ele sabia. "Ora", disse ele, "eu a calculei". Nestas palavras finais, Newton revelava que havia resolvido o maior problema do século: Determinar a força que mantinha a unidade do sistema solar, a causa de os planetas orbitarem em torno do sol, segundo as leis de Kepler, e que também provoca o mesmo movimento, regido pelas mesmas leis, nos satélites que giram em torno dos planetas.
"A sua resposta a Halley ("eu a calculei") revela o caráter do homem, pois ele ficara satisfeito simplesmente em fazer os cálculos, e não correra a tornar conhecida a mais importante descoberta científica da 'época: A lei da gravitação universal.
As sementes das grandes realizações de Newton em ciência datam de um período de cerca de 18 meses após a graduação na Universidade (1665-1667), quando o temor da peste negra provocou o fechamento da universidade e o seu retorno a` fazenda da família, em Woolsthorpe, Lincolnshire, onde nascera. Aí ele efetuou as suas mais fundamentais contribuições `a matemática, os métodos do cálculo diferencial e integral (invenção cujo crédito deve ser repartido com o filósofo e matemático germânico G. W. Leibniz, co-inventor independente). Durante o mesmo período, Newton descobriu a lei do inverso do quadrado e testou-a por um cálculo grosseiro do movimento da Lua.
Newton não só realizou trabalhos de matemática pura, mas fundou a ciência da mecânica celeste, desenvolveu um conjunto de descobertas no campo da 'ótica, estudando a luz, a cor, a interferência, etc.
Este conjunto de descobertas é notável para uma vida inteira e só podemos admirar, com espanto, como foi possível, num espaço de tempo tão curto, que um jovem, apenas formado pela universidade, pudesse legar contribuições tão fundamentais `a matemática pura, `a mecânica celeste teórica e `a dinâmica, e `a física experimental. Conforme Newton afirmou depois: "Tudo isto foi nos dois anos da peste, em 1665 e 1666, pois naqueles dias estava na força da minha idade de invenção, e pensava mais em matemática e filosofia que em qualquer tempo depois.
O restante da vida científica de Newton foi devotado à elaboração das descobertas fundamentais que havia feito.
Em 1690, Newton ficou desencantado (ou aborrecido) com a vida fechada de professor da universidade, e mudou-se para Londres, onde se tornou diretor da moeda, posto que ocupou até sua morte. Tornou-se presidente da Royal Society e dirigiu a ciência britânica com um firme controle. Durante os anos em Londres, publicou duas edições revistas do Principia (1713 e 1726), publicou seu livro sobre óptica (1704 e outra edições) e diversos tratados de matemática. Morreu em 1727 e foi enterrado, com honras nacionais, na Abadia de Wistminster.
A partir dos primeiros anos de vida adulta, Newton dedicou somente pequena fração da sua vida intelectual a objetivos científicos ortodoxos: matemática pura e aplicada, astronomia e mecânica celeste, dinâmica, física experimental e óptica. Durante a maioria dos anos da sua vida foi um ardente estudioso de teologia, lendo e tomando inumeráveis notas, escrevendo artigos e mesmo livros sobre questões religiosas. Alguns destes trabalhos tratam de questões fundamentais de interpretação da doutrina teológica, outros, do significado dos livros de profecia da Bíblia, e outros, ainda, do problema do esclarecimento da história da Igreja. Desenvolveu também um sistema novo de cronologia universal baseado em parte na astronomia, o qual porém não teve grande valor. O objeto principal dos seus estudo era a alquimia, que lia extensamente, copiando seções inteiras de livros, fazendo experiências, tudo com um objetivo que não conhecemos.
Através das suas leituras de filósofos místicos, de teólogos e de alquimistas especulativos, Newton pode ter adquirido uma visão unificada dum sistema de conhecimento que compreendesse as ciências física e divina, revelando as leis do mundo criado e os planos de seu criador. Diversos indícios deste aspecto do pensamento de Newton aparecem em seu escritos. Por exemplo, "...e assim, discutir Deus, a partir dos fenômenos, é próprio da filosofia experimental". Talvez tenha sido esta visão dum conhecimento que nunca atingiu que o tenha levado a desvalorizar suas monumentais realizações científicas. Pois pouco antes da sua morte comentou: "Não sei como aparecerei para o mundo. Para mim mesmo, me vejo como um garoto, brincando na praia, divertindo-se aqui e ali por achar uma pedra mais polida ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o grande oceano da verdade permanece desconhecido em minha frente."
Fontes Bibliograficas
Stephen F. Mason, "A History of the Sciences", Collier Books, New York (1962)
Edward McNall Burns, "História da
Civilização Ocidental", Ed Globo, Porto Alegre RS (1965)
Paul A. Tipler -
"Física", Guanabara Dois, Rio de Janeiro RJ, (1978)
Bernard Cohen, "Isaac
Newton", Artigo da Harvard University
O
sucesso de um empreendimento tecnológico está associado ao respeito aos
fatores humanos, ambientais, econômicos e sociais que estão sob sua
influência. Bons valores estabelecem a boa Cultura de Segurança !