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COMO ACONTECE UM "APAGÃO" ELÉTRICO E DICAS DE COMO SE PROTEGER NUM "BLACKOUT"



 O QUE FAZER EM UM "APAGÃO ELÉTRICO" ?


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Interrupções no fornecimento de energia elétrica em diversos pontos do país indicam uma instabilidade do sistema elétrico brasileiro.  Falhas operacionais e de manutenção são apontadas como justificativas para alguns destes eventos recentes.  Mas quando a frequência de interrupções se intensifica não há como negar o fato da instabilidade técnica do sistema.

Uma outra justificativa é a falha ou “erro humano” mas o termo muitas vezes é empregado incorretamente.  Uma investigação de acidente, por exemplo, causador de uma interrupção de fornecimento de energia utiliza ferramentas de gerenciamento de riscos e pessoal especializado com o objetivo de reunir as muitas causas que se somando resultaram no acidente (um acidente nunca tem uma causa única).  Mas todas as causas identificadas, sempre têm direta ou indiretamente alguma influência humana, algum tipo de “erro humano” oculto.  Daí, por falta de conhecimento técnico, torna-se fácil atribuir um “erro humano” como causa de qualquer acidente, já que sempre será possível encontrar alguma relação do evento com uma falha humana cometida no projeto, manutenção ou operação do sistema.  Mas uma investigação profissional e dentro dos padrões técnicos internacionais tenta identificar a causa mais influente, direta, a chamada “causa raiz” que é o principal componente a determinar o desencadeamento de eventos que resultam no acidente.  Para um “apagão” ter como “causa raiz” um “erro humano”, este precisaria ser a causa principal do evento.  Um sistema elétrico robusto deve ser capaz de não se degradar a ponto de chegar ao estado de “apagão” apenas por uma “falha humana”.  Há inúmeros mecanismos capazes de gerar redundâncias de proteção em caso de “falha humana” de modo a não permitir um “apagão”.  Na realidade pessoas erram e isso é uma característica dos seres humanos indistintamente e justamente por isso os sistemas devem ser projetados para evitar a formação de ambientes de indução ao erro e caso esse ocorra os sistemas precisam ser capazes de minimizar suas consequências, como por exemplo, evitando uma condição de colapso, de “apagão”.

As falhas operacionais e de manutenção realmente acontecem em qualquer instalação industrial como, por exemplo, numa usina de geração elétrica.  Mas num sistema bem dimensionado, resiliênte e confiável tais falhas são absorvidas através de proteções de segurança e principalmente através da resposta do sistema como um todo, o que evitaria o “blackout” ou “apagão”.  Esta resposta do sistema acontece quando uma usina passa por algum problema, ou por algum transiente operacional ou ainda quando ocorre uma falha de equipamento.  A usina afetada precisará reduzir potência ou até mesmo parar a sua geração elétrica.  As demais usinas devem ser demandadas pelo operador do sistema para aumentar potência e compensar a perda de geração da usina que falhou.  O que está acontecendo com o sistema elétrico brasileiro atualmente é que todo o sistema está sobrecarregado, todas as usinas estão buscando operar na potência máxima continuamente e quando uma usina falha as demais não têm margem para cobrir essa perda.  Devido ao automatismo, mesmo com pouca margem de geração as usinas tentam cobrir a demanda e acabam não suportando a carga requerida se desligando automaticamente.

Um problema nas linhas de transmissão também pode gerar o “apagão”.  Quando uma linha de transmissão é interrompida a energia não chega aos consumidores ou uma usina pode ficar isolada do sistema por falta de linha disponível.  O chamado “efeito cascata” ocorre porque quando uma linha de transmissão ou a primeira usina falha o sistema fica sobrecarregado e as demais usinas tentam aumentar sua potência sem na realidade ter potência disponível para isso e acabam se desligando também.  Dentre as usinas que permanecerem no sistema, a que estiver mais próxima do seu limite de geração também não suportará a carga e se desligará sobrecarregando ainda mais o sistema, exigindo ainda mais das demais usinas em operação que acabam se desligando uma a uma, “caindo” como peças de um dominó.  Atualmente esse cenário é agravado pela falta de chuvas nas cabeceiras dos rios que abastecem as usinas hidroelétricas e deficiências de infraestrutura de geração e distribuição.  Além disso, as altas temperaturas do verão aumentam ainda mais a demanda de energia para refrigeração que é uma carga importante.

É possível, através de uma estratégia de operação do sistema, esquivar-se tecnicamente do termo “apagão” por meio da antecipação do desligamento de consumidores.  Em outras palavras, se alguma usina estiver chegando no seu limite de geração elétrica e a demanda por energia naquele momento continuar aumentando num sistema já sobrecarregado, o operador do sistema pode se antecipar e iniciar um processo de desligamento “por sacrifício” de alguns consumidores para evitar o mal maior que seria o “efeito cascata” ou “apagão”.  Assim, embora os eventos de interrupção de energia estejam atingindo grande parte da população, pode-se dizer que não se trata literalmente de um “apagão”.  Mas na prática a fragilidade e a falta de confiabilidade do sistema é a mesma de um “apagão”, o qual só consegue ser evitado pelo desligamento “por sacrifício” de consumidores o que caracteriza a instabilidade e o colapso da capacidade de geração elétrica frente a demanda requerida.

Se a sociedade está exposta a uma situação de instabilidade como esta, que ações as pessoas podem adotar para se protegerem das consequências de um “blackout” ou “quase apagão” ?  A seguir elencamos algumas contribuições para minimizar as consequências de um “apagão” no dia a dia das pessoas.



Estar Bem Informado
Procure entender o problema.  Embora pareça complicado ou fora do seu alcance este problema trará consequências para o seu dia a dia e quanto mais se estiver consciente do que está acontecendo, mais preparado se estará para agir corretamente diante das circunstâncias de um “apagão”.

Falta de Energia Desestabiliza a Organização
Nossa sociedade é altamente dependente da eletricidade e a sua falta pode ser aparentemente pouco impactante quando ocorre em curtos períodos de tempo (até 30 min).  Interrupções prolongadas degradam minuto após minuto a organização geral.  É um escalonamento de efeitos que se inicia com problemas de iluminação, depois comunicação, fornecimento de água, alimentos, combustível, segurança pública num processo que pode tornar-se caótico.  Quanto mais consciente da situação do sistema elétrico, melhor a leitura dos fatos durante o “apagão”, melhor a percepção do grau de degradação dos sistemas, melhor a condição para tomada de decisão sobre como contornar os problemas.

Locais Públicos
Locais que concentram grande quantidade de pessoas devem ter sistema de geração elétrica de emergência.  São diesel geradores, banco de baterias, ou outros meios que entram automaticamente em operação quando há falta de energia por parte da infraestrutura pública.  Estes equipamentos precisam estar com a manutenção em dia e combustível suficiente para funcionarem na hora da emergência.  Muitos destes sistemas são projetados para funcionar com autonomia de apenas alguns minutos ou algumas horas e tem uma expectativa de projeto para pouco uso, já que não se espera a ocorrência frequente de “apagões”.  Mas como as interrupções tem sido maiores e mais frequentes estes equipamentos podem estar sendo requeridos acima do que foi previsto em projeto, e portanto podem falhar também, mesmo sendo sistemas de emergência.  Com o sistema elétrico instável, é recomendável aos responsáveis intensificar a manutenção dos grupos geradores de emergência de locais públicos como shoppings centers, hospitais, condomínios, empresas, grandes edificações, escolas, universidades, igrejas, estádios, casas de espetáculos entre outros.  Caso ocorra um “apagão” e uma pessoa esteja neste tipo de local, é muito importante aproveitar os momentos iniciais em que o sistema de emergência ainda esteja funcionando.  Enquanto as luzes de emergência ainda estejam acesas, enquanto os meios de deslocamento como elevadores e escadas rolantes ainda estejam disponíveis, nessa fase tudo será mais fácil.  Se a luz piscar ou reduzir intensidade isto pode ser sim um aviso importante de que um “apagão” está a caminho.  Uma boa medida é procurar se antecipar e evitar locais confinados ou difíceis de se alcançar a saída.  Locais que concentram grande quantidade de pessoas não são projetados para oferecer segurança se houver uma perda total de energia, inclusive da geração de emergência.  É mais recomendável sair e procurar local mais seguro externo.  Recomenda-se também, nos casos de diesel geradores, o máximo rigor no reabastecimento do combustível (diesel) que é uma carga perigosa e deve ser transportada por veículo autorizado para esse fim.  Acidentes com derrames, contato com partes quentes e durante o transporte podem ocorrer por falta de preparo prévio.  Também é importante ter muito cuidado com os gases do escape dos motores diesel geradores.  Estes gases são letais e podem causar a morte rapidamente, sem muito aviso quando concentrados em locais fechados.  Muitas vezes a exaustão da saída dos gases para o ambiente externo é obstruída até mesmo pela pouca utilização do equipamento e acidentes fatais são frequentes, até mesmo com os gases de veículos em garagens fechadas.

Na Rua
Se houver um “apagão” e a pessoa estiver na rua, o melhor a fazer é reduzir o plano de atividades ao mínimo necessário com o objetivo de encerrar as tarefas do dia e retornar para casa pois outras tarefas mais importantes deverão ser realizadas em casa.  O tempo é um fator importante porque a degradação da organização geral só irá aumentar e isso irá criar dificuldades de transporte e locomoção.

Em Casa
Mantenha recursos que permitam manter algumas atividades essenciais mesmo se houver um “apagão”.  Um mínimo de recursos de iluminação é manter pelo menos uma lanterna de LED, preferivelmente carregada ou com pilhas novas.  Evite o uso de velas pois podem causar queimaduras e incêndios além de produzir fuligem e calor.  Tenha alguns alimentos que possam ser consumidos sem dependência da energia elétrica e se possível alguns que não precisem do uso de gás também.  Abra o mínimo a geladeira para prolongar a chance de conservar os alimentos.  Desligue no interruptor e retire da tomada o plug de equipamentos eletrônicos e elétricos porque o retorno da energia pode ocorrer fora dos parâmetros normais e isso pode danificar os aparelhos.  Se houver áreas públicas seguras próximas, uma boa medida pode ser sair de casa e aguardar o máximo possível.  Se houver grande quantidade de escadas e não houver elevador de emergência isso deve ser considerado antes de se decidir pela saída.

No elevador
Se o elevador em que a pessoa estiver parar durante o “apagão”, apenas os técnicos responsáveis pela manutenção do elevador ou os bombeiros podem tentar retirá-la.  É extremamente perigoso tentar sair de um elevador desenergizado sem assistência qualificada e muitas mutilações e fatalidades acontecem por causa do despreparo e precipitação nestes momentos.

No transporte público
O processo de desorganização geral devido a um “apagão” é praticamente inevitável.  Será uma questão de tempo até que a falta de combustível e de comunicação inviabilizem a continuidade da maioria dos serviços, principalmente o transporte.  Portanto os momentos iniciais são os melhores para se utilizar o transporte público.  Com relação a falta de energia em linhas de trem e metrô, as empresas que adiministram esses meios de transporte devem ter recursos e pessoal qualificado para fazer o escape e abandono de pessoas até o local seguro.  A princípio, uma pessoa dentro de um trem ou metrô deve aguardar instruções e principalmente evitar gerar pânico.  Se as instruções não forem recebidas ou forem inconsistêntes, analise bem cada ato como abandonar o vagão, deslocar-se próximo às linhas, pois tais atos serão por conta e risco exclusivo de cada pessoa e os perigos são elevadíssimos como trilhos e cabos que podem ser energizados, valas, buracos, composições em movimento, gases, etc.

No Carro
O carro é um dos locais mais seguros em caso de “apagão”.  Por possuir geração própria de energia, praticamente nenhuma limitação irá impactar o funcionamento e a segurança do veículo.  No máximo as rádios poderão sair do ar e faltar informações orientativas por esse meio de comunicação.  Mas obviamente o carro funciona enquanto tem combustível e as bombas dos postos em geral dependem de eletricidade para reabastecê-lo.  Portanto observe atentamente a quantidade de combustível e reavalie seu plano de rota tentando evitar deslocamentos que não sejam essenciais porque o próximo reabastecimento poderá ocorrer somente quando o fornecimento de energia for normalizado.  Também é necessário mudar a forma de dirigir considerando que os sinais de trânsito não estarão mais confiáveis ou disponíveis.

Cuidados Extras

·    Gerador Próprio:  Quem mora em casa ou em local com espaço adequado pode adquirir pequenos geradores a gasolina suficientes para atender pequenas cargas como algumas lâmpadas ou geladeiras menores.  Mas existem vários modelos maiores conforme o interesse do comprador.  O problema maior é manter o combustível e fazer os testes periódicos (ligar o gerador por um determinado tempo).  Esses geradores causam ruído forte e fumaça durante todo o tempo em que estão sendo utilizados.  O combustível degrada com o tempo.

·   Rádios Comunicadores:  Rádios comunicadores autônomos podem ser encontrados no mercado já nas faixas autorizadas pelas autoridades (sem interferências).  No caso de haver um colapso total de telefonia fixa e móvel, estes rádios podem prover uma comunicação mínima entre 2 pontos.  Por exemplo, se uma família precisa que um componente saia para colher informações no térreo de um edifício, os demais componentes poderão manter o contato a partir do apartamento.

Crianças:  Quem tem crianças tem que pensar em coisas que as outras pessoas nem sequer imaginam.  Por exemplo, durante um “apagão” evitar estar com elas em locais de grande concentração de pessoas e que depende de energia elétrica para a iluminação.  Na realidade tudo fica um pouquinho mais complicado quando temos crianças conosco durante um “apagão”, como no caso de ficar preso em um elevador.  Cada pai e mãe deve avaliar idade e comportamento de seus filhos e se preparar com pequenos cuidados que só cada pai e mãe pode oferecer, como por exemplo ter uma pequena lanterna na bolsa, um pacote de alimentos e água, um livro infantil, etc.  O melhor a fazer é mesmo rever o plano de atividades da família quando se está sob ameaça de “apagão”.  Evitar locais que dependam de eletricidade para ter o mínimo de iluminação, evitar grandes concentrações de pessoas onde as crianças possam se perder se esta iluminação falhar, assim como outras medidas específicas para cada criança as quais cada bom pai e mãe sabem melhor do que ninguém que os seus pequeninos precisariam numa situação como essa.

O sucesso de um empreendimento tecnológico está associado ao respeito aos fatores humanos, ambientais, econômicos e sociais que estão sob sua influência. Bons valores estabelecem a boa Cultura de Segurança !