Segurança Offshore e a Necessidade de
Renovação de Tecnologias Maduras
Os sistemas, equipamentos, estratégias
e tecnologias utilizadas em projetos de segurança offshore e marítima tem sido
desenvolvidos sob a imposição mandatória do cumprimento de requisitos de
normas, regras e códigos de segurança como por exemplo os estabelecidos pela IMO – International Maritime
Organization. Se por um lado a aderência
às regras estabelecem um padrão técnico e assegura um patamar mínimo de
segurança aos projetos offshore, infelizmente por outro lado algumas
consequências indesejáveis acabaram surgindo ao longo dos anos.
O trâmite de revisão das regras e códigos
exige considerável tempo até que as inovações tecnológicas sejam analisadas,
avaliadas e aprovadas. Os projetos de
segurança offshore em geral possuem rígidos controles de prazos, não permitem
que inovações tecnológicas sejam viabilizadas economicamente de forma imediata. A opção pela conformidade com as normas
existentes ao invés da proposição de novas tecnologias que as revisem, assegura
o atendimento de prazos, aprovação, documentação e certificação dos sistemas de
segurança sem impactos para o planejamento dos projetos. Com isso os sistemas e estratégias de
segurança offshore e marítima passaram a dispor de tecnologias muito maduras,
com sistemas e equipamentos que avançaram muito em termos de subsistemas e peças
mas conceitualmente não evoluíram devido a estratégia de evitar o confronto direto
com as normas e os consequentes trâmites e entraves que resultariam em propor mudanças
nestas normas para comportar novas tecnologias.
Projetos offshore convivem com tecnologias de última geração
e tecnologias maduras que são mandatórias em sistemas de segurança
Uma situação que já é perceptiva e
algumas iniciativas já estão em andamento para corrigir esta que tem sido uma
das principais causas de limitações na evolução tecnológica dos sistemas de
segurança offshore/marítima. Uma das
mais importantes iniciativas é a abordagem de projeto do tipo “Projeto Naval
Baseado em Risco (Risk-Based Ship Design)” proposta pelo pesquisador e
professor Phd Dracos Vassalos da University of Strathclyde para ser aprovada
pela IMO. Neste tipo de abordagem,
análises quantitativas e qualitativas de risco são aceitas como justificativas
técnicas para que novas tecnologias que comprovadamente agreguem mais segurança
aos projetos sejam implementadas, mesmo que os requisitos da IMO e de outros
códigos ainda não contemplem tecnicamente essa nova tecnologia. Essa abordagem contribui para a possibilidade
de evolução de todos os sistemas de segurança que hoje possuem tecnologias
consideradas maduras como por exemplo é o caso dos sistemas de proteção passiva
(PFP – Passive Fire Protection).
Os sistemas de PFP de projetos
offshore são desenvolvidos com base na divisão dos espaços da unidade em grupos
de mesma similaridade em termos de riscos, como por exemplo:
- Estações de Controle (salas de telecom, painéis de controle, equipamentos essenciais, baterias, etc)
- Acessos Verticais (escadas internas)
- Corredores
- Áreas de Convivência (escritórios, cabines, enfermarias, auditórios, biblioteca, áreas de recreação, etc)
- Áreas de Serviço de Alto Risco (cozinha, estoques de materiais imflamáveis, laboratórios, etc)
- Áreas de Serviço de Baixo Risco (salas de estocagem com menos de 4m2, lavanderias, câmeras frigoríficas, etc)
- Áreas Abertas (decks, etc)
- Áreas de Poço
- Áreas de Processo
Cada grupo de espaços possui um
requisito de anteparas e pisos. Quando espaços enquadrados em diferentes grupos estão
posicionados lado a lado no arranjo da unidade offshore, uma fronteira é gerada dividindo os grupos diferentes. As anteparas e pisos que os separam são
classificados por tabelas específicas dentro das normas e regulamentos aceitos
internacionalmente.
Em estágios mais avançados de projeto,
estudos de propagação de incêndio, dispersão de gases e explosão são utilizados
para corrigir eventuais pontos onde tais análises identifiquem vulnerabilidades
específicas. Estes estudos de segurança se
concentram em priorizar os efeitos do escalonamento destes cenários sobre a
instalação offshore. São identificados
os pontos onde o evento postulado possa acarretar uma perda da integridade dos
elementos estruturais por efeito de calor e onda de choque. Adicionalmente são avaliadas as possíveis
interferências dos efeitos de calor, fumaça e onda de choque nas rotas de fuga
principais.
Finalmente, a partir dos
resultados dos estudos são geradas as recomendações para que a classificação
de anteparas realizada previamente (com base nos requisitos normativos), seja
ajustada para responder a eventuais vulnerabilidades identificadas no projeto do
sistema de proteção passiva PFP.
Apesar de toda a tecnologia empregada
nesse tipo de projeto, as análises de segurança citadas acima ainda deixam a
desejar no que se refere a priorização das pessoas e a consideração da
influência direta de temperatura, onda de choque e fumaça sobre as
pessoas. Aspectos de cultura de
segurança e fatores humanos também não são considerados em sua máxima
potencialidade. As nuvens de pontos
geradas nos estudos de propagação de incêndio, dispersão de gases e explosão
são consideradas apenas para apurar os efeitos sobre a estrutura e sobre os
equipamentos mas não são utilizadas para avaliar diretamente os efeitos do
cenário sobre as pessoas, que formam a parte mais frágil e que deveria ser
priorizada. Não são simulados e avaliados o
deslocamento e a interação de pessoas durante o evento postulado. Nestes
cenários são esperadas movimentações de agentes devido às operações de escape e eventual
abandono. É evidente que durante a
evolução de cenários desse tipo, pessoas poderão estar nos locais em que o
evento esteja sendo originado e outras podem estar precisando atravessar tais
áreas e isso não é estudado pela metodologia atual de forma direta. Além dos aspectos de cultura de segurança há
limitações técnicas tanto em relação ao conhecimento dos fatores humanos
envolvidos bem como, em alguns casos, limitações de disponibilidade de ferramentas computacionais
que permitam esse tipo de análise.
Recentes pesquisas na área de Gerenciamento de Riscos realizadas na COPPE UFRJ sob orientação do Prof. D.Sc José Márcio Vasconcellos conseguiram desenvolver simulações
a partir de ferramentas computacionais identificadas, customizadas e testadas com sucesso. Tais simulações permitem que análises mais complexas possam ser realizadas contemplando
aspectos de fatores humanos e cultura de segurança. Além disso é possível considerar todo o
dinamismo e realismo da movimentação de pessoas e sua interação durante a
evolução de tantos cenários quantos forem postulados.
Com os resultados obtidos neste tipo de
análise a classificação de anteparas para proteção passiva, em especial nas regiões estratégicas para
o deslocamento de escape e abandono, podem ser corrigidas adequadamente
assegurando condições melhores para as pessoas alcançarem as áreas
seguras. A proteção passiva até então projetada para a
estrutura e equipamentos pode ser avaliada também sob o ponto de vista da
interação homem x máquina durante a emergência, considerando as superfícies com
temperatura acima da aceitável nas rotas de fuga, corredores, portas, escadas,
etc. Definitivamente esta metodologia
permite uma elevação do nível técnico de análise de consequências propiciando
uma melhoria significativa na classificação de anteparas de proteção passiva
para a estrutura da unidade offshore e ainda inclui uma maior proteção ao
elemento humano, priorizada por essa técnica.
fim.
fim.
Original Language
Segurança de Navios de Cruzeiros
O acidente
ocorrido na costa Italiana em 2012 levantou dúvidas sobre a segurança e os
procedimentos a serem adotados pelos passageiros no caso de acidente em navio
de Cruzeiro. Entrevista concedida à
Editora Abril responde as principais perguntas e esclarece dúvidas de leitores.
O link da
publicação original é: entrevista original click aqui . A seguir o conteúdo da entrevista:
Viajar de navio é seguro? O acidente com o Costa Concordia trouxe
à tona a discussão sobre a segurança dos navios e a VT entrevistou um
engenheiro para elucidar a questão
O acidente com o Costa Concordia, em 13 de janeiro, deixou o mundo em
alerta sobre a segurança dos navios. Viajar de navio, afinal, é seguro. O
engenheiro Gerardo Portela, pesquisador e doutorando em segurança offshore da
COPPE-UFRJ, diz que sim. Veja a entrevista completa que ele deu à Viagem & Turismo:
1. É seguro viajar de navio?
Sim. Não há porque considerar que viajar de navio seja menos seguro do
que por outros meios de transporte. O que aconteceu com o Costa Concordia foi
um acidente. Acidentes acontecem em meios de transporte, em indústrias, em
casa, na natureza e até mesmo em nosso corpo acontecem “acidentes biológicos”
que se tornam doenças. Faz parte da vida conviver com riscos, às vezes maiores
outras vezes menores e é uma ilusão pensar que estamos absolutamente isentos
dele. O que faz uma pessoa correr menos riscos é ser mais cuidadosa, por
exemplo, escolhendo empresas e navios que demonstrem seriedade nas questões
relacionadas à segurança. Mas isso é para tudo, não apenas para viajar de
navio.
2. Em caso de uma emergência dentro do navio, qual o procedimento que deve ser tomado pelos passageiros?
Ao embarcar num navio de cruzeiro, o passageiro sempre receberá um
treinamento sobre como proceder em caso de acidente. Muitos passageiros,
principalmente os que já viajaram muitas vezes, tentam fugir do treinamento
pois pensam que já fizeram uma vez por isso não precisam fazer outro. Estão errados.
Cada navio tem um arranjo interno diferente, dimensões, equipamentos, coletes
com características diferentes e somente esse treinamento, que é rápido,
assegura que o passageiro tenha os mínimos conhecimentos necessários para o
momento da emergência. Quando a emergência ocorrer, o passageiro deve seguir as
instruções do treinamento e procurar se dirigir para o ponto de encontro
estabelecido. Só deve colocar coletes salva-vidas quando requerido pois os
mesmos podem atrapalhar o deslocamento e a saída do navio, principalmente se
houver alagamento interno. Manter a calma, não insistir em carregar consigo
pertences que nunca terão maior valor do que a vida e manter uma postura
positiva. Estas atitudes são importantes.
3. Existe um lugar mais seguro dentro do navio? Os passageiros devem pensar nisso antes de escolher a cabine? Quanto mais alto o deque, melhor?
Teoricamente não existe lugar mais seguro que outro pois os projetos
trabalham para proteger sempre aqueles que teoricamente estariam menos
favoráveis em cada cenário. Simulações computacionais mostram que há tempos de
deslocamento diferentes, conforme a distância e a quantidade de escadas para
percorrer até chegar ao ponto de encontro. Também não podemos saber qual o tipo
de emergência irá acontecer. Num acidente que afete a estabilidade como o que
aconteceu na Itália, talvez fosse melhor não estar nos decks mais baixos. Por
outro lado, se o acidente for um incêndio que pode acontecer na cozinha, teatro
ou nas áreas de recreação que ficam nos decks mais altos, o deslocamento pelos
decks do fundo até o local de abandono, provavelmente seria mais seguro.
4. O que é mais seguro, navegar em alto mar ou na costa? Navio grande é mais seguro que navio pequeno?
Não existe um lugar mais seguro. Existe navio certo para o local certo.
A tecnologia de navegação já é madura o suficiente para que se navegue em todos
os locais do planeta, inclusive em locais gelados como próximo aos polos. Toda
embarcação regularizada possui também uma classificação que determina a quantidade
de pessoas, o tipo de atividade de transporte marítimo e as eventuais
limitações. Obedecer aos requisitos marítimos internacionais, inclusive sobre a
manutenção do navio e obedecer aos procedimentos operacionais com pessoal
devidamente treinado, é o que torna a navegação segura.
5. Qual o risco de um navio encalhar na costa brasileira e no Rio da Prata?
A navegação é tão antiga e evoluiu tanto tecnologicamente que não teria
sentido evitar a navegação na costa brasileira, Rio da Prata ou qualquer outro
lugar do planeta porque o navio pode encalhar ou porque os ventos podem atuar
negativamente, seja na costa ou em alto mar. Encalhar é um acidente, ou seja,
se o navio é adequado para uma determinada região e os procedimentos de
segurança forem cumpridos com idoneidade, não há motivos para excluir nenhuma
rota de navegação. Claro que, se eu decido por conta própria superlotar uma
embarcação rudimentar, como acontece em alguns pontos da bacia amazônica de
forma irregular sem autorização, aí sim estamos em risco.
6. Pular no mar é indicado em caso de emergência? Não há risco de bater no casco?
Em caso de uma emergência, principalmente longe da costa, o local mais
seguro no mar ainda é a própria embarcação, mesmo que avariada. Por isso o
capitão deve analisar bem o cenário e somente ordenar o abandono em caso de
real necessidade. Se isso acontecer, os meios preferenciais são as embarcações
de salvamento e botes ou, caso seja possível, por assistência externa seja
aérea ou marítima. Mas há casos em que o acidente evolui e o limite técnico
para se fazer um abandono seguro com esses equipamentos é alcançado. Nesse caso
extremo, não se podendo mais aguardar na embarcação avariada, pular é sim uma
opção, mas a última. Além dos riscos de choque com partes do navio, inclusive
partes não visíveis por estarem submersas, há o problema da hipotermia mesmo
nas águas de nossa costa. Porém pular com colete adequadamente vestido faz
parte do treinamento de toda a tripulação, sendo tecnicamente uma opção
extrema, de alto risco que no entanto já salvou vidas em acidentes no passado,
como também causou mortes por pura precipitação e pânico.
7. Você acredita que vai haver mudanças nos procedimentos de segurança dos navios daqui para frente?
Com certeza haverá uma investigação do acidente dentro das normas
internacionais a qual resultará em conclusões, recomendações que certamente
irão influenciar e possivelmente revisar normas e procedimentos de segurança
atuais. Porém, percebe-se no histórico de acidentes recentes com equipamentos
de alta tecnologia, como aviões por exemplo, que uma profunda reflexão sobre
até que ponto a automação, sofisticação e complexidade tecnológica também tem
influenciado nesses acidentes catastróficos. Há suspeitas que os operadores
destes equipamentos, acostumados a intervir poucas vezes devido a automação,
quando são requeridos a atuar, o são nas circunstâncias em que nem os
computadores mais conseguiriam resolver. Isso levanta também a suspeita que
talvez esses profissionais, mesmo com todo o treinamento, possam nessas
circunstâncias receber uma carga técnica e cognitiva acima da capacidade humana
de processamento tanto mental como emocional. Isso merece uma profunda reflexão
de toda a comunidade técnica já que o estudo dos Fatores Humanos relacionados
ao projeto pode tornar a interação homem X máquina mais adequada e reduzir a
possibilidade do tão temido "erro humano".
Engenheiro Comenta Naufrágio na Costa Italiana
Especialista Explica Procedimento de Abandono do Costa Concordia
Costa Concordia - Especialista Comenta Resgate
fim.
VEJA TAMBÉM
Costa Concórdia 1 Ano Depois - Causas do AcidenteEngenheiro Comenta Naufrágio na Costa Italiana
Especialista Explica Procedimento de Abandono do Costa Concordia
Costa Concordia - Especialista Comenta Resgate
fim.
Original Language
Escape e Abandono em Instalações Offshore
Simulações Computacionais
Pesquisa
em segurança offshore da COPPE UFRJ realizada em conjunto com a
University of Strathclyde (Glasgow, UK) identifica novas ferramentas
computacionais para o projeto mais eficiente e preciso de sistemas de
escape e abandono. A pesquisa também inovou incluíndo a influência de
fatores humanos e comportamentais nas simulações, com base em estudos
realizados na The California State University, em San Jose no coração
do "Vale do Silício" americano.
Simulações
computacionais desenvolvidas no Kelvin Hydrodynamics Laboratory da
University of Strathclyde (Glasgow, UK) permitem estudar
os possíveis comportamentos das pessoas durante o evento acidental
(escape e
abandono) e permitem também incluir nas análises as considerações e as
influências associadas a fatores humanos e a cultura de segurança
predominante. Isto é um diferencial em
relação a um estudo de “evacuação” convencional, o qual apenas
considera
aspectos normativos e teóricos. A partir
dos resultados das simulações de escape e abandono, os métodos e
planejamentos
teóricos gerais de evacuação que atualmente são empregados em projetos
de
instalações offshore podem ser aprimorados.
A pesquisa opta por utilizar os termos “evacuação”, “escape” e “abandono” em conformidade com a nomenclatura adotada pela ISO – International Organization for Standardization – nº 13702 [1]. Para representar adequadamente o que realmente estamos estudando priorizamos a adoção do termo “sistema de escape de perigos e abandono de cenários” ou de forma simplificada: “sistema de escape e abandono”. Fizemos essa opção por entendermos que assim mantemos maior precisão e coerência com a norma ISO 13702.
Frequentemente o termo evacuação é utilizado de forma abrangente aos demais (escape e abandono), seja pelos profissionais de gerenciamento de riscos, seja pelas normas e procedimentos. A abordagem tradicional de projetos restringe-se ao estudo da “evacuação”. De acordo com a ISO 13702 o termo evacuação está mais relacionado ao método geral (teórico) para que as pessoas a bordo (POB) deixem a instalação durante uma emergência, enquanto que os atos efetivamente praticados pelo POB para deixar a instalação durante uma emergência são denominados pela ISO 13702 como procedimento de “abandono”. O significado do termo “escape”, na mesma norma ISO 13702, está associado ao ato das pessoas se afastarem do perigo imediato (fogo, gás, etc) para um local onde os efeitos desse perigo sejam reduzidos ou eliminados. “Escapar” não significa necessariamente sair do cenário do acidente enquanto que “abandonar” significa exatamente isso, mesmo que o abandono do cenário do acidente seja para passar a fazer parte de um segundo cenário de risco (por exemplo a sobrevivência no mar), e desde que este segundo cenário esteja fora da influência do primeiro. Esta é a justificativa por optarmos pela denominação “sistema de escape de perigos e abandono de cenários” em substituição ao termo “sistema de evacuação”.
A pesquisa opta por utilizar os termos “evacuação”, “escape” e “abandono” em conformidade com a nomenclatura adotada pela ISO – International Organization for Standardization – nº 13702 [1]. Para representar adequadamente o que realmente estamos estudando priorizamos a adoção do termo “sistema de escape de perigos e abandono de cenários” ou de forma simplificada: “sistema de escape e abandono”. Fizemos essa opção por entendermos que assim mantemos maior precisão e coerência com a norma ISO 13702.
Frequentemente o termo evacuação é utilizado de forma abrangente aos demais (escape e abandono), seja pelos profissionais de gerenciamento de riscos, seja pelas normas e procedimentos. A abordagem tradicional de projetos restringe-se ao estudo da “evacuação”. De acordo com a ISO 13702 o termo evacuação está mais relacionado ao método geral (teórico) para que as pessoas a bordo (POB) deixem a instalação durante uma emergência, enquanto que os atos efetivamente praticados pelo POB para deixar a instalação durante uma emergência são denominados pela ISO 13702 como procedimento de “abandono”. O significado do termo “escape”, na mesma norma ISO 13702, está associado ao ato das pessoas se afastarem do perigo imediato (fogo, gás, etc) para um local onde os efeitos desse perigo sejam reduzidos ou eliminados. “Escapar” não significa necessariamente sair do cenário do acidente enquanto que “abandonar” significa exatamente isso, mesmo que o abandono do cenário do acidente seja para passar a fazer parte de um segundo cenário de risco (por exemplo a sobrevivência no mar), e desde que este segundo cenário esteja fora da influência do primeiro. Esta é a justificativa por optarmos pela denominação “sistema de escape de perigos e abandono de cenários” em substituição ao termo “sistema de evacuação”.
Interface para Inserção de Fatores Humanos em Simulações de Escape e Abandono
Os sistemas
de evacuação propostos nos atuais projetos de instalações offshore são baseados
nas seguintes normas e regulamentos:
- ISO 13702 - Control and Mitigation of Fires and Explosions on Offshore Production Installations
- IMO SOLAS: Safety of Life at Sea
- IMO MODU CODE: Mobile Offshore Drilling Units
- REQUISITOS DA AUTORIDADE MARÍTIMA (NORMAN 01): Norma da Autoridade Marítima Brasileira para Embarcações Empregadas na Navegação de Mar Aberto
- REQUISITOS DE SOCIEDADES CLASSIFICADORAS (American Bureau of Shipping (ABS), Stiftelsen Det Norske Veritas (DNV), Bureau Veritas S.A.(BV), Lloyd's Register Group (LLOYD’S)
- NORSOK S-001 Technical Safety Standard
- API RP 14J American Petroleum Institute - Design and Hazards Analysis for Offshore Production Facilities.
- REQUISITOS DAS OPERADORAS - Especificações Técnicas e Normas Aplicáveis à Segurança Offshore criadas por empresas petroleiras.
Os
projetos atuais de sistemas de evacuação de instalações offshore concentram-se em
cumprir as regras e requisitos normativos acima, os quais definem
dimensionamento, sinalização, localização e iluminação de rotas de fugas; as características de portas, escadas,
escotilhas e janelas que fazem parte destas rotas; assim como definem os tipos de equipamentos
de salvatagem e a utilização de materiais alternativos. Apesar destas normas agregarem segurança, os
requisitos são definidos de forma genérica não sendo possível avaliar a
performance e eficiência destes recursos considerando as particularidades de
arquitetura naval de cada instalação, bem como o comportamento de cada pessoa
durante uma emergência real. A
interferência dos aspectos de arranjo, arquitetura, fatores humanos e cultura
de segurança exigem um grau superior de complexidade nos estudos.
A norma
ISO 13702 estabelece a realização de “Estudos de Evacuação, Escape e Resgate
(EERA)” para instalações offshore. Este
tipo de análise muitas vezes se limita a uma simples verificação do cumprimento
das normas citadas, incluindo um cálculo bastante limitado dos tempos de
deslocamento para pessoas nas posições mais distantes do ponto de encontro.
Simulações
computacionais da performance de sistemas de escape e abandono como as
desenvolvidas nas pesquisas da Universidade de Straghclyde, permitem um estudo muito mais profundo e
preciso sobre o que realmente acontece durante uma operação de escape e
abandono em uma instalação offshore, fornecendo resultados precisos sobre as
janelas de tempo para deslocamento seguro em tantos cenários quanto se queira
estudar, além de valores de tempos para auxílio na tomada de decisão por
abandono por parte da autoridade da instalação offshore.
Efeitos do calor, intoxicação e visibilidade sobre os agentes
podem ser medidos em tempo real durante a simulação
de cenários acidentais e os resultados tratados estatisticamente
As pesquisas, auxiliadas pela Engenheira Yasmine Hifi do Kelvin Hydrodynamics Laboratory, permitiram construir um modelo 3D da instalação offshore e posicionar
deterministicamente cada membro do POB.
Alternativamente, parte do POB pode ser distribuída randomicamente por
áreas previamente determinadas da unidade conforme a mobilidade e
características de suas atividades.
Considera-se também aspectos de fatores humanos que possam interferir no
comportamento das pessoas como por exemplo, gênero, idade, tempo de reação,
experiência operacional. Correções podem
ser atribuídas conforme o turno definido em cada cenário acidental postulado,
por exemplo, em função do estado de sono ou da condição de vigília.
As
simulações podem ser repetidas em bateladas para cada cenário incluindo
variações de horário, posicionamento de pessoas, perfil comportamental e
antropométrico do POB, para diferentes opções de rotas. Com a possibilidade de repetições em escala,
os resultados podem ser tratados estatisticamente e alcançar uma elevada
representatividade das condições reais tanto da instalação offshore quanto ao
comportamento das pessoas envolvidas.
Aspectos
da cultura de segurança predominante na operadora podem ser avaliados uma vez
que os procedimentos operacionais podem ser incluídos sob a forma de uma
programação comportamental prévia para cada membro do POB. É possível, por exemplo, simular o escape e
abandono com a exigência de retorno de cada agente ao seu respectivo camarote
para retirada de coletes e depois comparar os resultados para o mesmo cenário,
desta vez excluíndo o procedimento de retorno para as cabines.
Histórico de Ocupação das Muster Stations durante a Emergência
Os
métodos atuais de estudo e investigação dos meios de evacuação de
unidades offshore são muito limitados quando comparados às vantagens do uso de
simulações computacionais de escape e abandono que incluam aspectos de
fatores humanos e cultura de segurança.
Através de simulações computacionais desta natureza é possível identificar
congestionamentos, rotas problemáticas, caminhos alternativos, regiões que
precisam de proteção passiva e contra fumaça.
Situações extremas, que só poderiam ser analisadas durante acidentes
catastróficos, podem ser estudadas previamente sem riscos, ainda na fase de
projeto com amplas possibilidades de implementação de correções. Localizações diferentes para os pontos de
encontro e estações de abandono podem ser testadas ainda na fase de projeto
básico, bem como rotas de fuga e novos procedimentos operacionais. Estudos de escape e abandono que incluam
ferramentas computacionais em substituição aos tradicionais estudos de
evacuação, propiciam uma nova perspectiva para a proteção da vida em
instalações offshore através da melhoria na eficiência no escape e abandono.
[1] ISO
13702 - Petroleum and natural gas
industries — Control and mitigation of fires and
explosions on offshore
production installations — Requirements and guidelines
O
sucesso de um empreendimento tecnológico está associado ao respeito aos
fatores humanos, ambientais, econômicos e sociais que estão sob sua
influência. Bons valores estabelecem a boa Cultura de Segurança !