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DESMORONAMENTOS E TEMPESTADES DE VERÃO


 

CATÁSTROFES COM DATA CERTA NO CALENDÁRIO


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Um problema que parece crônico é a repetição de catástrofes em decorrência das chuvas e tempestades no período final do verão no Brasil.  O número de vítimas e a reincidência de ocorrências, podem aparentar tratar-se de um problema sem solução alcançável.  A seguir, apresentamos 5 questões básicas sobre o gerenciamento desse tipo de risco. 

1 - Os desmoronamentos com grande número de vítimas, que ocorrem devido às chuvas de verão, resultam de um fenômeno natural e portanto sem solução  ?

Não.  Os acidentes por desmoronamentos com vítimas fatais podem ser classificados como acidentes de origem externa, ou seja, acidentes cujo fato original que os gerou é decorrente de uma influência completamente externa ao projeto.  Entretanto a causa raiz desse tipo de acidente é a inadequação do tipo de projeto em relação a sua locação.  Atualmente a tecnologia de construção civil permite construir edificações em praticamente qualquer local, mas dependendo das dificuldades de construção, o elevado custo torna determinados locais inviáveis economicamente para a comercialização.  Os terrenos e áreas que exigem projetos e construções difíceis e caras, obviamente tem menor interesse comercial.  Muitas vezes estes terrenos transformam-se em áreas aparentemente abandonadas, disponíveis e até convidativas para serem ocupadas pela parcela mais carente da população.  Em algumas destas áreas é até proibido construir edificações, e isso não está claro para todos, principalmente para a população mais carente. 

2 - Os responsáveis por esses acidentes são os próprios moradores e usuários da edificação  ?

A princípio não.  Afinal não é esperado que alguém intencionalmente construa uma edificação para seu uso nestas condições de alto risco.  Em geral, quando isso acontece, há uma ignorância dos moradores sobre o elevado nível de risco ou pelo menos uma cultura de segurança tão baixa a ponto de gerar uma tolerância inaceitável ao risco, por total ignorância.  A responsabilidade pela educação básica, principalmente da população mais carente, é do poder público.  E é na educação básica que se forma a cultura de segurança, a percepção e o respeito aos riscos, aprende-se os cuidados necessários para as intervenções do homem no ambiente natural, e se combate o menosprezo aos perigos.  Neste caso, ignorância mata.  E o antídoto é uma boa educação básica fornecida pelo poder público aliada a informação técnica especializada.  Desejar segurança pode ser algo natural e fruto de bom senso.  Alcançá-la não.  Alcançá-la é fruto de trabalho técnico especializado. 

3 - Que atenção certa deve ser dada a esse problema em tempo de evitar as catástrofes de final de verão  ?

Primeiramente as regiões onde são proibidas as construções precisam ser permanentemente fiscalizadas e segregadas.  A fiscalização precisa ter presteza para agir imediatamente quando for identificada alguma tentativa de ocupação.  Outro fator importante é a educação e a informação dada à população.  Tanto a fiscalização das áreas de exclusão como a educação básica da população são responsabilidades das autoridades.  Também, de responsabilidade das autoridades, é a aprovação de projetos em áreas que exijam mais tecnologia para construir estruturas seguras.  Muitas vezes, apesar de tecnicamente possível, o terreno exige um projeto estrutural mais robusto e caro, mas por falhas de fiscalização, projetos inadequados acabam sendo aprovados com riscos latentes, como já aconteceu, por exemplo, com hotéis de luxo construídos fora dos requisitos de segurança estrutural e que por isso sofreram soterramentos na região da Costa Verde, Angra do Reis, RJ. 

4 - Como devem agir os que já estão ocupando uma edificação que pode estar sob esse tipo de risco ?

O simples fato de existir a suspeita de se estar ocupando uma edificação com risco de desmoronamento faz grande diferença.  O pior é ignorar completamente isso.  A primeira atitude deve ser deixar a edificação até que seja verificada a adequação técnica da construção e projeto (se houver) ao terreno.  Essa verificação tem que ser feita por profissional de engenharia civil, especializado em estruturas e fundações.  A defesa civil dispõe desse tipo de profissional.  Depois, caso haja alguma inadequação, a edificação pode ser recuperada se o custo para isso for viável.  Caso não seja, o melhor a fazer é não mais fazer uso da edificação. 

5 - O que fazer quando o morador de uma edificação condenada pela inadequação doprojeto ao terreno não tem para onde ir ?  E quando nem sequer existiu projeto, tendo sido construída uma edificação amadoristicamente, como acontece ana maioria das comunidades carentes afetadas por esse tipo de tragédia ?

O fato de não ter para onde ir talvez seja o que exerça maior pressão para o não abandono da edificação condenada.  As autoridades, mais uma vez, são os maiores responsáveis para a resolução desse problema de infraestrutura urbana.  Não há solução intermediária para esse problema.  Pessoas precisam de moradia.  Não havendo disponibilidade surgem as ocupações, comunidades e construções amadoras sem a menor segurança, improvisadas nas áreas disponíveis para ocupação que assim torna-se desordenada e irregular.  A própria descrição do cenário desse tipo de acidente deixa clara a responsabilidade das autoridades sobre estas tragédias, que tanto se repetem.  São necessárias ações a curto, médio e longo prazo, envolvendo desde a infraestrutura de habitação do país, até a fiscalização diária dos princípios de ocupações irregulares.  Em termos de gerenciamento de riscos, as chamadas tempestades de verão, são apenas o fenômeno natural que dispara a cadeia de eventos que geram estas catástrofes.  A partir do primeiro evento, a tempestade, praticamente todos os demais poderiam são evitáveis por ações de um poder público capacitado e eficiente.  Em síntese, as chuvas de verão são fenômenos naturais que têm menor peso no estabelecimento de tantas vítimas fatais, já que não estão no controle das pessoas.  O maior peso está na responsabilidade em relação à falta de planejamento urbano e de infraestrutura habitacional.

O sucesso de um empreendimento tecnológico está associado ao respeito aos fatores humanos, ambientais, econômicos e sociais que estão sob sua influência. Bons valores estabelecem a boa Cultura de Segurança !